Continuação da Resenha de Adolphe Bossert e sua obra: "Introdução a Schopenhauer", traduzido para o Português por Regina Schopke e Mauro Baladi e editado pela editora Contraponto em 2011_ (segunda parte).
“
Aquiles, neste sentido, não se tornou um herói por causa de sua “bela morte” (
a chamada morte heroica), mas por causa
de sua vida, ou não ter jamais
trapaceado consigo mesmo, por ter-se mantido íntegro e coeso, fiel a si
mesmo, por ter enfrentado sem temor ,ou mesmo com algum, mas de pé e sem se
acovardar tanto a vida quanto a morte” (PG. 9);
“O
herói é simplesmente aquele que ensina, por seu próprio exemplo, que é possível
ser livre, é possível ser senhor de si, não se curvando jamais, nem por toda a
riqueza e o prestígio do mundo. A glória
da eternidade é a única que lhe cabe; e esta só se conquista ao se viver de
verdade e sem trair a própria natureza.” (PG. 9);
“Dentre
esses encontra-se o filósofo alemão Arthur Schopenhauer(1788-1860), que, como
Aquiles, morreu honrosamente num campo
de batalha e, de certo, numa guerra mais poderosa e nobre que qualquer outra
guerra travada pelo pensamento contra a ignorância que escraviza a humanidade”.
(PG. 10);
“Apesar da inegável influência que o pensamento de Schopenhauer exerceu sobre os mais diversos escritores e
pensadores- como Nietzsche Wittgenstein, Freud, Thomas Mann,Borges e até mesmo
Machado de Assis-, não são muitos os que conhecem verdadeiramente a sua obra.
Ele, que atacou tão duramente Hegel e toda a filosofia acadêmica da sua época
(por considerá-la essencialmente estéril e até mesmo perniciosa para as mentes
mais brilhantes), acabou, como não poderia
deixar de ser, atraindo a antipatia de muitos de seus
contemporâneos o que o ajudou a
permanecer por longo tempo no ostracismo.No entanto, Schopenhauer jamais se
deixou intimidar pelos comentários maldosos
e depreciativos sobre seus escritos. Assim, como todo grande pensador,
ele não faz concessões para ser aceito e apreciado nos meios intelectuais ,
sendo fiel apenas á filosofia e a si mesmo. “( PG.10).
“
Seu pensamento, sempre citado, nos dicionários e Histórias da Filosofia, como
essencialmente pessimista, nos surpreende pela clareza (pouco comum nos alemães
como diz o próprio Schopenhauer) e também por apresentar um estudo inusitado
sobre a felicidade ou, mais exatamente, sobre a possibilidade de se atingir
alguma plenitude nesta vida”(PG 10);
“
Sim, uma “ arte de ser feliz(que Schopenhauer designa pelo nome de
“Eudemologia”, ou “Eudemonismo”) não nega nem contradiz, como pode parecer, a
sua ideia central de que a vida é dor e
sofrimento( com algumas breves pausas de alegria).Mas é claro que termina por
suscitar uma reflexão mais profunda acerca
do próprio sentido do pessimismo Schopenhaueriano, já que, dentre outras
coisas, o célebre “ mestre do pessimismo” ( como foi muitas vezes chamado)
defendia que devemos abrir todas as portas quando a felicidade se apresenta,
porque ela nunca deve ser considerada
inoportuna. (PG 11);
“Isso
quer dizer, em outras palavras, que Schopenhauer não nega que existam
verdadeiras alegrias nesta vida. Para ele, porém, elas são sempre mais fugazes
que as dores. Neste ponto, em especial, ele concorda com Aristóteles, quando
este afirma que a verdadeira felicidade consiste basicamente na ausência da
dor. Por mais intensa que seja qualquer alegria, a presença da dor sempre a
ultrapassa, segundo o filósofo alemão. Eis porque, para Schopenhauer, uma arte
de ser feliz deve nos ensinar a reconhecer tudo o que fatalmente provocará
nosso sofrimento, independentemente dos nossos desejos e aspirações. Aliás, a
questão é ainda mais profunda; o desejo, sem o governo da razão, é a causa
maior das nossas maiores angústias e decepções, em nada contribuindo para a
nossa felicidade. Digamos que, por alguns instantes de prazer, muitos se
arriscam anos de tormento; é isto que Schopenhauer gostaria de mostrar e de
ensinar a evitar- o que, em parte, não é muito diferente do alerta de Spinoza,
que, em sua ética, nos expõe os riscos dos maus encontros, das paixões tristes
e despotencializadoras. Mas, sem dúvida, Schopenhauer radicaliza a questão e
entende que só a cessação da vontade pode, de fato, permitir que se tenha
alguma paz de espírito nesta vida; (pg 11);
“
È assim que, independentemente de ser um pessimista e, de fato, mostrar-se um
tanto indisposto em relação á vida( o que , no fundo, revela mais sua
indisposição em relação aos próprios homens, ou , mais exatamente, aos caminhos
traçados pela humanidade, posto que é isso que tem tornado a vida tão irrespirável
e miserável), Schopenhauer não deixa de ser genial e brilhante, não sendo outra
a razão pela qual o próprio Nietzsche o chamou de “ o educador”, aquele que pode
verdadeiramente nos ensinar algo de valor, para a nossa vida.( PG 12);
“
E, afinal de contas, Schopenhauer não está tão equivocado quando diz que as
paixões podem nos escravizar de modo irremediável. Há, de fato, que ser senhor
de si mesmo para não se tornar um escravo delas, já diziam os estoicos gregos.
O meio-termo, neste caso, como em quase tudo, seria o melhor caminho, diria
Aristóteles( e assim, trata-se mais de governar as paixões do que de
extirpá-las), embora Schopenhauer, neste ponto, não concorde com ele e proponha
o abandono completo das paixões mundanas e de tudo o que desvia a razão de seu
caminho para uma existência superior ou mais digna. E isso só é possível ,
segundo Schopenhauer, se rompermos com a cadeia ininterrupta dos desejos que
leva os homens a viverem buscando,sem desejos que leva os homens a viverem
buscando, sem cessar, prazeres fugazes e inconstantes; prazeres que ora fazem
sofrer por não se realizarem, ora
desencadeiam outros desejos tão logo sejam satisfeitos, e, assim, ao infinito.
(pg 13);”
“Pois
bem: dito isso, voltemos a falar um
pouco mais do próprio conceito de pessimismo.Sem
dúvida, as conclusões de Schopenhauer acerca
da miséria da existência e também da necessidade de supressão da
vontade( única maneira, para ele, de se atingir uma duradoura paz de espírito) fazem dele um
pessimista. Mas, a despeito da negatividade deste conceito, que apareceu
primeiramente entre os ingleses, mas encontrou sua melhor expressão na
filosofia de Schopenhauer, o pessimismo nada mais é do que uma reação vigorosa
á concepção leibniziana de que vivemos no melhor dos mundos possíveis”. (PG
14);
“
Ainda assim, independentemente suas próprias considerações, é inegável que Schopenhauer também foi movido por uma grande e incontrolável paixão: a
paixão pelo pensamento, a paixão pela filosofia. Sim é fato que, para ele,
existe uma diferença de natureza entre as paixões mundanas e o amor do filósofo
pela verdade e pelo conhecimento”. Pg 15;
“
No entanto, no fundo de tudo o que nos move está a paixão, essa chama, essa
força vital que não nos permite, nem que
queiramos, desviar atenção do nosso
objeto do amor. Para o bem ou para o mal, a isso chamamos “ paixão”, e não é
sem razão que filósofos como Spinoza, o barão de Holbach, Jean- Marie Guyau e Nietzsche não a veem como um sentimento(pulsão, afeto etc), negativo e perigoso,
a não ser quando ela se fixa em algo que nos despotencializa , nos enfraquece.
“Nesse
caso, como pensa o próprio Spinoza, a qualidade do nosso amor é medida pela
qualidade do objeto que amamos. È assim que nossas paixões podem ser alegres ou
tristes, ou com os sublimes. “( pg 15).
“De
fato, Schopenhauer é um homem austero, duro, ás vezes até mal-humorado, mas
também é aquele que passeia alegremente todos os dias com seu cão e que
defende que 90% da nossa felicidade residem na saúde, deixando aos homens e,
sobretudo, aos filósofos do futuro a
lição de que é preciso cuidar tanto do corpo quanto do espírito. È assim que,
pessimista ou niilista, Schopenhauer
continua sendo o gram mestre da
humanidade” (pg 23);
“
Um sistema filosófico pode ser considerado sob dois pontos de vista: ele é ao
mesmo tempo a consequência dos sistemas
que o precederam e o produto do gênio individual de um filósofo.À
primeira vista, parece que os sistemas procedem uns dos outros por uma espécie
de desenvolvimento orgânico e quase ine vitável. Aqui, porém, não mais que outras áreas, a liberdade humana não
abdica de seus direitos. Schopenhauer não teria sido o que foi se não tivesse
vindo depois de Kant: mas sua doutrina também não se justificava sem a natureza
de sue espírito e as circunstâncias de sua vida. Nesse aspecto, não existe
diferença alguma entre história da filosofia e a história literária.” (PG.25);
“ Schopenhauer que teve fama apenas tardiamente, não viveu o bastante para
publicar uma edição completa de suas obras. No entanto, ele se preocupava muito
com a forma pela qual a posteridade iria conhecê-lo. Havia nascido escritor, e
para ele um pensamento só se completava quando encontrasse sua expressão na
linguagem Schopenhauer indicava a ordem na qual sues escritos devem ser
classificados” (PG. 26);
“ Em 1873-1874, Frauenstaedt publicou a
primeira edição das obras de Schopenhauer” (PG.26);
“
A filosofia de Schopenhauer foi objeto de um estudo detalhado e crítico na
História da filosofia moderna, de Kuno Fischer. Na França, ela foi inicialmente
julgada do ponto de vista do ecletismo espiritualista que ainda reinava em
meados do século XIX. Ao mesmo tempo, A revista Germânia apresentava alguns
fragmentos de tradução. Por fim, em 1870, Challemel-Lacour, que conhecera
Schopenhauer em Frankfurt, fixou definitivamente a atenção sobre ele com um
artigo eloquente que penetrava o cerne de sua doutrina”. (PG. 26);
“Schopenhauer
escreveu pouco; ele se gabava de ser um oligógrafo. Mesmo sua correspondência é
pouco extensa, em parte composta por
instruções dadas seus discípulos. As publicações parciais, que tiveram início
logo depois de sua morte, foram
condensadas em duas coletâneas principais, embora ambas incompletas , que se complementam:
a de Schemann, e a de Grisebach” (pg 27).
* ( Escritor bissexto);
“
Na principal obra de Schopenhauer há um
longo capítulo sobre a hereditariedade moral. Nenhum filósofo ou naturalista
jamais duvidou de que as características físicas dos indivíduos, assim como as
das espécies, sejam hereditárias, e a experiência de todos os dias o comprova.
Porém, será que o mesmo acontece com tendências, aptidões e tudo aquilo que não
está ligado essencialmente á forma do corpo?Pode-se dizer, de maneira absoluta,
que “ filho de peixe, peixinho é, e que “tal pai, tal filho”? Schopenhauer não
somente afirma isso como também pretende determinar, na transmissão das
qualidades morais, a participação de cada um dos progenitores. O pai fornece o
elemento primeiro e fundamental de todo
ser vivo: a necessidade de agir, a vontade da mãe deriva a inteligência, aptidão secundária.
Schopenhaer não tem dificuldade para encontrar na história fatos que
justifiquem sua teoria; e simplesmente descarta os que a contradizem”(PG. 29);
“
Mas, sem dúvida, ele só pensava em si mesmo quando dizia: “ Que cada um comece
por se observar , que reconheça suas
tendências e paixões, suas falhas de caráter, e fraquezas, seus vícios assim
como seus méritos e virtudes- se os tiver”. (PG. 29);
“
os ascendentes paternos de Schopenhauer, tão longe quanto se possa chegar em
sua genealogia, eram homens de vontade forte, com certa tendência para a
excentricidade. A família tinha origem holandesa. O avô era proprietário rural nos arredores de
Dantzig. Sofreu alguns revezes da sorte, em parte em decorrência das revoluções
políticas que fizeram com que a antiga cidade hanseática passasse da suserania
dos reis da Polônia para o domínio da Prússia. Já viúva, a avó foi declarada
louca, e tornou-se necessário atribuir-lhe um tutor judicial. Dos quatro
filhos, o mais velho não tinha vontade própria: O segundo também se tornou uma
personalidade fraca em consequência de uma vida de excessos.” (PG. 30);O quarto,
Heinrich Floris, pai do filósofo, associou-se ao terceiro irmão para fundar em
Dantzig uma casa comercial que logo se tornaria próspera. Era um homem grande e forte, tinha boca larga, nariz
arrebitado, queixo protuberante e problemas de audição”. (pg 30);
“Duas
qualidades que não se podiam negar a Heinrich Schopenhauer eram uma vontade
íntegra e firme- que não recusava um debate, embora terminasse sempre por se impor- e uma amplitude de
ideias muitas vezes presente em quem se dedicava ao grande comércio
marítimo”.(PG. 30);
“Ele
fizera seu aprendizado em Bordeaux e em seguida viajava pela França e pela
Inglaterra. Era cosmopolita, mas, se pudesse ter escolhido uma nacionalidade,
teria se tornado inglês. Todos os dias lia o Times. Antes dele um comerciante e
que o chamaria de Arthur, por esse nome ser o mesmo em todas as línguas. No
decorrer de suas viagens, assistira a uma inspeção de tropas,de Frederico II,
em Potsdam, e atraíra a atenção do rei com seu ar de fidalgo. (PG 31);
“
Arthur tinha cinco anos quando a família, fugindo da ocupação prussiana,
estabeleceu-se na cidade livre de Hamburgo. Sua única irmã, Adele, nasceu
quatro anos depois, em 1797.No mesmo ano, o pai começou a ocupar-se da educação
do filho. Heinrich Schopenhaer queria fazer de Arthur um fidalgo como ele,
atento e dotado de sentido de justiça,avaliando as coisas por si próprio e sabendo
se virar no mundo.Se ele preferia a carreira comercial a qualquer outra, não
era por hábito ou preconceito, mas por razões precisas, pelo conforto e a liberdade que ela proporcionava, o exercício
que oferecia para todas as capacidades humanas. Havia dois meios de se preparar
para isso: o estudo de línguas e as
viagens. Também estavam ali, segundo ele, os dois fundamentos de toda educação
individual e a liberal. “ È necessário que meu filho”, dizia ele,”aprenda a ler
no livro do mundo” Pg 30.
“
De acordo com a natureza da nossa inteligência, as ideias abstratas devem
nascer de nossas percepções estas, portanto, devem preceder àquelas ”(PG 34);” Ao
contrário, na educação artificial- que consiste em fazer dizer, em fazer
aprender e em fazer ler-, a cabeça do estudante é recheada de ideias antes que
ele se ponha em contato com o mundo” (PG 34);
“
A educação produz, assim mentalidades mal forjadas. O jovem depois de ter
aprendido muito e lido muito, entra no mundo como uma criança perdida, ora
totalmente inquieto, ora loucamente presunçoso. Ela fica com a cabeça cheia de
ideias que se esforça por aplicar, mas que aplica quase sempre de maneira
desastrada. Este o resultado de uma educação que põe a consequência adiante do
princípio, ou seja, que segue um caminho contrário ao do desenvolvimento
natural do nosso espírito.”(PG 34);
“
Arthur Schopenhauer, embora desfrutando de suas jovens experiências e desse
primeiro olhar que lhe era dado lançar sobre o mundo, começava a manifestar
gosto pelos estudos literários. Ele adorava ler os poetas e se aplicava no
aprendizado de latim- tanto quanto lhe permitia o pouco tempo que o programa da escola destinava as línguas
antigas. Seus professores declaravam unanimemente que ele fora feito para a
carreira de letras. Heinrich Schopenhauer- primeiro espantado, depois
contrariado- talvez não tivesse resistido ao desejo do filho” se, em sua mente,
a ideia de vida literária não estivesse indissoluvelmente ligada á da
pobreza”.(PG 35)
“
Todas as vezes que dois homens se aproximam, é necessário que um dos dois dê o
primeiro passo”. (PG36);
“
Admito que o tom cerimonioso te aflija,
mas ele é necessário á ordem social.” (PG 36);
“ Embora eu tenha pouco interesse pela fria etiqueta, gosto ainda menos das
maneiras rudes das pessoas que só procuram agradar a si próprias”; (PG 36);
“Quando
foi dada a Aquiles a chance de escolher entre ter uma vida longa,confortável e
tranquila ou morrer nos campos de batalha,ele simplesmente não escolheu. Não
escolheu porque, no fundo,não se tratava de uma escolha, e sim de fazer
aquilo que determinava a sua natureza- e
sua natureza exigia que lutasse até o fim”. PG 9;
" Assim, o homem de gênio, em geral propenso á melancolia, mostra vez por outra essa serenidade particular que só a ele é possível , que paira sobre sua fronte como um raio de luz, e que se deve ao fato de que o seu espírito sabe se identificar completamente com o mundo exterior".(pg. 38);
" Um homem que encurva as costas sobre a mesa sua escrivaninha parece um sapateiro remendão disfarçado". (PG.39);
" Seu pai morreu em 20 de Abril. Não se sabe se caiu ou se jogou de um celeiro no canal que passava atrás da casa. As circunstâncias da morte jamais foram esclarecidas.Schopenhauer assegura- e podemos acreditar em sua palavra- que jamais houve no mundo um empregado de comércio pior que ele. Qualquer pretexto era bom para se furtar a um trabalho que o repugnava. A única coisa que o interessava nos últimos meses do inverno de 1805 eram as conferências que o dr. Gall foi fazer em Hamburgo, sobre frenologia".(PG.41);
* Franz Gall (1758-1828), médico alemão que criou a frenologia, pseudociência que estuda o caráter e as faculdades intelectuais do indivíduo pelo formato do crânio.
" Seu pai morreu em 20 de Abril. Não se sabe se caiu ou se jogou de um celeiro no canal que passava atrás da casa. As circunstâncias da morte jamais foram esclarecidas" (PG 41);
"O certo é que havia algum tempo se observava em Heinrich Schopenhauer uma singular fraqueza de memória; ele não reconhecia mais os amigos, falava com eles como se fossem estranhos". (PG 42);
" Na maioria das vezes, os loucos não se enganam no conhecimento daquilo que está imediatamente presente; suas divagações se relacionam sempre a coisas ausentes ou passadas, e, indiretamente, á ligação dessas coisas com o presente: por conseguinte, a doença parece afetar sobretudo a memória"( PG 42);
" Se Schopenhauer ainda experimentava diante da austeridade crítica de Kant, uma espécie de pavor que logo iria superar, em compensação viu-se seduzido desde o início pela teoria das idéias platônicas, modelos imortais das coisas perecíveis. Platão continuaria a ser sempre para ele o divino Platão". (PG 58);
" Assim, Platão é associado a Kant e tem mesmo precedência sobre ele, na primeira concepção da filosofia de Schopenhauer . Em geral, observa-se nele, durante todo o período de estudos, ao lado da tendência inata á observação pessimista, uma necessidade de contemplação ideal á qual , mais tarde, ele satisfaria com sua teoria das artes" ( PG. 58);
" O princípio da razão suficiente, objeto do primeiro escrito de Schopenhauer não passa, no fundo, da regra mais geral da construção filosófica.Aplicada ao mundo exterior, ele se confunde com o princípio da causalidade. Nenhum fato se produz no mundo sem que exista uma razão suficiente para isso, e é procurando essa razão que se chega a compreender o fato.. Na esfera de nossos conhecimentos teóricos, nenhuma afirmação é legítima a não ser que contenha em si mesma maiores chances de verdade que a afirmação contrária" (PG. 64);
" O que distingue o homem dos outros animais, é a razão, a faculdade da abstração que traz consigo o dom da linguagem". (PG. 66);
" Além das representações sensíveis , que o homeme partilha com os animais, ele também pode alojar em seu cérebro- que, sobretudo para isso, tem um volume superior-algumas representações abstratas, ou seja, deduzidas das precedentes. Essas representações foram chamadas de conceitos porque cada uam delas compreende em si, ou antes, sob si, inumeráveis indivíduos dos quais ela é concepção coletiva. È possível também defini-las como representações extraídas de representações. " (PG 67);
" O conhecimento, mesmo sensível, é, segundo ele, antes de mais nada, obra da inteligência, para a qual os snetidos só servem de instrumento. " È preciso que o entendimento crie, ele próprio em primeiro lugar, o mundo objetivo. Não é o mundo que entra pronto em nossa cabeça pela porta dos sentidos e pelas aberturas dos órgãos. Os sentidos não fornecem nada além de matéria bruta que o entendimento transforma inicialmente, por meio das formas simples de espaço, tempo e causalidade, em percepção objetiva de um mundo material regido por leis. Portanto, nossa percepção cotidiana, nossa percepção empírica, é uma percepção intelectual".
Kant poderia assinar esse trecho. Em suma, a doutrina da primeira obra de Schopenhauer, apesar de algumas reservas de detalhes, era puro Kantismo". (PG 68);
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