terça-feira, 25 de junho de 2013

Resenha da obra de Klester Cavalcanti

" Aviso aos navegantes: O homem que matou centenas de pessoas é uma dessas figuras inacreditáveis que fazem do Brasil um colorido catálogo de espantos. 
Klester Cavalcanti atuou dois anos como correspondente da revista veja na Amazônia" (pg 13);
" Em sua obra , faz um trabalho de reconstituição de cenas, diálogos, paisagens, gestos, sensações, num dedicado exercício de arqueologia jornalística "(pg 13);
Espantos de todos os calibres povoam as páginas deste livro. Quer saber qual pode ser o preço de uma vida? Algo como 30 quilos de arroz, 20 de feijão, 10 de café, 10 de açúcar, 5 de queijo, 10 latas de óleo, 12 garrafas de cachaça. ( pg. 13);
Quer saber quais são os mandamentos  d matador? 
O primeiro é: não matar uma mulher grávida. 
O segundo: não roubar bens da vítima.


O terceiro: não matar outros pistoleiros.

O quarto: não deixar o pagamento pra depois.
O quinto: não matar a vítima enquanto ela estiver dormindo. (pg 13)
" Foram necessários sete anos de conversas para que Júlio Santana me autorizasse a colocar o seu verdadeiro nome neste livro. Na primeira vez em que nos falamos, em Março de 1999, ele concordou em me contar sua história , mas não queria revelar sua identidade, nem permitir que eu- ou qualquer pessoa o fotografasse(pg  15 );
O homem com quem eu passava a conversar- a partir daquele dia- a uma média de uma entrevista por mês- é um assassino profissional que, em 35 anos de trabalho, já matou quase 500 pessoas. Mais precisamente, 492 mortes, das quais 487 foram devidamente registradas num caderno, com data, local do crime, quanto ele recebeu pelo serviço e, o mais importante, os nomes dos mandantes e da vítimas( pg 15);
Meu primeiro  contato com esse intrigante cidadão  brasileiro ocorreu durante a produção de uma  reportagem sobre trabalho escravo. Á época, Março de 1999, eu era correspondente da revista Veja na Amazônia  função que desempenhei durante pouco mais de dois anos.
Para a referida reportagem, eu e o fotógrafo Junduari Simões,viajamos a várias cidades do Pará,á procura de pessoas que já tinham sido escravizadas e de fazendeiros que mantinham escravos  em suas propriedades. (pg 15);
Nos últimos sete anos, mantive minhas conversas com o homem  que já matou quase 500 pessoas e que  nunca teve outra atividade profissional na vida.
A cada telefonema, nossa relação ficava mais estreita.Sentia que ele passava a confiar mais em mim e a contar  suas histórias de forma cada vez mais sincera e emocionada. Vez ou outra, eu voltava a falar sobre minha vontade de relatar sua vida(....);
(pg 17);
Em janeiro de 2006, durante uma conversa, Júlio me disse que tinha decidido largar a vida  de matador para viver com a mulher e os dois filhos em outro estado, longe do Maranhão.(pg 17). Morando  em outro  estado, e levando uma vida totalmente diferente de que tinha até então, ele jamais seria encontrado pela polícia(pg 17);
Com três blocos de anotações preenchidos exclusivamente com as minhas conversas  com Júlio, passei a outra fase  do trabalho: procurar outras fontes, como  documentos e pessoas, que confirmassem- ou não- os relatos  do protagonista deste livro. Nessa busca, entrevistei quase quarenta pessoas- de policiais a garimpeiros que trabalharam em Serra Pelada,passando por parentes de pessoas assassinadas por Júlio- e tive acesso a inquéritos policiais e a processos judiciais.
Um dos depoimentos mais surpreendentes foi o do ex-deputado e ex- presidente do Partido dos trabalhadores, José Genoíno Neto. Num de seus relatos , Júlio Santana havia dito que tinha participado da captura de José Genoíno durante  a Guerrilha do Araguaia, em Abril de 1972.
Para atestar a veracidade dessa história, marquei uma entrevista com Genoíno, na sua casa, em São Paulo. Durante a conversa, falei á Genoíno que uma fonte minha- não revelei quem era- havia dito que participara da sua captura no Araguaia. Contei a História de acordo com tudo o que Júlio me dissera, incluindo detalhes mínimos, como, por exemplo, a cor do cachorro que estava na cabana na qual prenderam o então guerrilheiro. Genoíno  lembra até de que, no grupo que o capturou, havia  um rapaz bem mais jovem do que os outros integrantes. Era Júlio Santana , que, á época, tinha 17 anos. (pg 18);
A história que você lerá nas páginas a seguir, retrata a vida de um homem que nasceu numa vila no meio da selva Amazônica e que tinha tudo para se tornar  um pescador pacato, esquecido nos rincões da floresta, como tantos que existem na Amazônia. Uma gente abandonada pelas autoridades e pelo governo, em cujos povoados até hoje não há energia elétrica, água encanada, esgoto, escolas, postos de saúde, onde a segurança é inexistente e a polícia não põe os pés.(pg 19).
Desse mundo fabuloso e inóspito , saiu Júlio Santana, um brasileiro que passou a vida matando brasileiros. E engana-se quem pensa que os crimes aconteciam apenas nos cafundós da Amazônia. em seus 35 anos de profissão , Júlio matou pessoas em vários estados, incluindo São Paulo, Paraná, Bahia e Goiás.Mas sempre se  orgulhou em declarar que jamais assassinou ninguém por ódio ou  vontade própria. " Só mato  quando me pagam pra matar", ele me disse inúmeras vezes E apesar das quase 500 mortes que carrega nos ombros, Júlio Santana só foi preso uma única vez, em Maio de 1987.(pg 19);
" Para um garoto que acabara de completar 17 anos e que  nunca tinha dado um tiro numa pessoa, no entanto, a tarefa não parecia tão simples(pg 21);
Com 1,76 metros de altura e 65 quilos, Júlio era magro , tinha o rosto ainda imberbe, nariz largo  , lábios frios e cabelos crespos, escuros. A pele morena realçava os olhos castanho-claros. Naquela tarde de 7 de agosto de 1971, ele tentava fazer o que  seu tio, o policial militar Cícero Santana, lhe ordenara na noite anterior(...) (pg 21);
" Á época com 31 anos, Cícero Santana havia crescido naquela mesma região.. Ao completar 15 anos, foi tentar a vida em Imperatriz, também no Maranhão. certo dia, apareceu  em Porto franco  vestido de soldado e dizendo que tinha entrado  para a Polícia Militar. era o orgulho  da Família. Cícero adorava caçar, pescar, andar pela mata.. Foi com ele que Júlio aprendeu a atirar. Aos 11 anos, o garoto já conseguia acertar um animal "do outro lado do rio", a uma distância de cerca de 100 metros. (pg 23).
" Primeiramente, Cícero, fez uma revelação  que deixou Júlio surpreso  e assustado. Para aumentar seus ganhos, conciliava o trabalho  na Polícia Militar com uma atividade pouco usual.. Era matador de aluguel.Tinha entrado para o mundo da pistolagem , havia quase dois anos.Júlio quis não acreditar no que ouvia. . o tio que ele tanto amava era um assassino. Um homeme que matava pessoas por dinheiro. (....) (pg 29);
 Ele contou a Júlio que , certa vez, em Outubro de 1969, durante uma operação da PM  o batalhão do qual fazia parte prendeu três homens  suspeitos de serem os executores de quatro trabalhadores  rurais nas redondezas do município de São francisco do Brejão, no oeste do Maranhão.
"" Os mandantes dos assassinos pagavam  cerca de mil cruzeiros  ao pistoleiro- mais de quatro vezes  o valor do salário mínimo  da época, que era de 225 cruzeiros(pg 29);
" Não parava  de pensar em como seria  matar uma pessoa. Assim tinha  aprendido com os pais , ambos devotos, de São  Jorge e que todo  domingo iam á missa na igrejinha de madeira da comunidade. Quem desobedece á Deus é castigado e vai para o inferno . E Júlio não queria nem uma coisa ou outra. (pg 37);
" O único par de sapatos que tinha- um tênis Conga, azul-marinho, que ganhara ao completar 16 anos- ainda estava praticamente novo. Só calçava o tênis para ir á missa , aos domingos."(pg 67);
O rapaz passou o resto da tarde acompanhando Marra pela cidade. Soube que toda  aquela tropa  de militares que infestavam Xambioá, pertencia  ás três forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Tudo para combater os comunistas. Conheceu as bases militares improvisadas na cidade.
O campo de futebol fora transformado  em pista de pouso e tinha uma grande cabana, capaz de abrigar até 30 homens  e que funcionava como ambulatório e dormitório para recrutas. 
" Ainda não havia  se acostumado com a intensa movimentação  de Jipes e caminhões  militares. Diariamente, fazia uma visita de 10 ou 15 minutos ao delegado  Marra, na delegacia, para saber se já tinha sido definido o dia da próxima incursão do grupo ás selvas do Araguaia.(pg 73);
No percurso até a região do rio gameleira, o grupo conversava sobre mulheres , futebol e comunistas. (pg 77);
Nos cinco dias que se seguiram, a rotina do grupo se manteve inalterada. Dias inteiros caminhando nas matas fechadas do Araguaia, debaixo de um calor  insuportável sob ataques constantes de insetos.Já tinham conversado com diversos moradores  da região- a maioria lavradores- e até  subornado alguns com remédios e roupas. Muitos prometeram ficar de olho nos comunistas para ajudar em operações futuras(pg 79);
(...) O delegado lembrou que, caso encontrassem algum guerrilheiro  na mata, não deveriam, em hipótese alguma, atirar  para matar. O objetivo era capturar os comunistas para interrogatório. Só assim saberiam onde ficavam as bases de apoio do movimento e o Exército poderia , então , acabar de vez com a guerrilha. (pg 81);
( ...) disse Carlos Marra- Quero que vocês prestem bastante atenção no que eu vou falar agora. 
Como já está provado que Julão tem a melhor pontaria do grupo, se a gente encontrar algum comunista e tiver de atirar, quem dará o primeiro  disparo será o garoto(pg 83);
Para o caso de precisarem dormir na selva- o que nenhum deles queria- levavam as redes e uma grande panela  de ferro, cheia  de arroz, farofa de ovo, e pedaços de carne seca assada.. Na mochila de Tonho, havia um pouco de café, um punhado de sal grosso, meia dúzia de limões e tr~es latas de sardinha(....)Pg  85;
Por volta das 2 horas da tarde, encontraram pegadas frescas, nas matas no entorno do Rio Gameleira. Pelo tamanho das marcas e espaçamento entre uma pegada e outra, Júlio deduziu que tinham  sido deixadas por um homem de cerca de 1, 80 metro de altura. (pg 85)
Depois de matar a sede, Júlio retomou a trilha, correndo ainda mais apressadamente do que quando viera. tinha receio de que o comunista chegasse ao local onde seus amigos  estavam e os pegasse de surpresa. Ou de que  o grupo capturasse o guerrilheiro sem ele estar por perto(pg 89);
-Homem é que nem bicho (...) Só corre se sentir que está sendo seguido ou que está em perigo (....)pg 89; 
Como esse comunista não sabe que a gente está atrás dele, ele deve estar todo calminho. (pg 89);
Para Carlos Marra, a arma era um forte indício do envolvimento de genoino no movimento rebelde. (pg 95);
José Genoíno continuava deitado. Parecia desacordado. Mas estava apenas descansando, depois da sova que o deixara com hematomas nas costas, pernas e barriga(pg 97);
Duas coisas perturbavam Carlos Marra: onde estaria o helicóptero que ele havia pedido para levá-los de volta a Xambioá, e como poderia  arrancar do guerrilheiro as informações que queria? Em relação ao primeiro problema, não poderia fazer nada  anão ser esperar. No segundo caso, retomar as sessões de tortura parecia-lhe  a melhor opção (...) quando o delegado ordenou aos seus homens que voltassem a espancar o prisioneiro(pg 97);
Genoíno quis não acreditar que começaria tudo de novo. Júlio virou as costas, para não ver a surra. Apenas ouvia os gemidos de dor. Não demorou até Marra ter uma ideia que Júlio achou ainda mais cruel do que já tinha visto até aquele momento. Seguindo ordens do delegado, Ricardo pegou duas latas de sardinha vazias e colocou-as no chão, com a parte que tinha sido aberta á faca para cima. Tonho , Emanuel e Forel forçaram o jovem comunista a ficar de pé sobre as latas. Genoíno sentia as bordas pontiagudas das latas rasgarem a sola dos seus pés. Trincava os dentes e apertava os olhos de dor. Forel segurava o guerrilheiro pelos cabelos (pg 97);

Na capital federal, José genoino Neto teve sua identidade comprovada. Era, de fato, um comunista filiado ao PC do B e que, inclusive, já havia sido preso, em outubro  de 1968, na cidade paulista de Ibiúna, por sua atuação política. . Logo concluíram que o rapaz  era um dos líderes da guerrilha do Araguaia. Um mês depois, foi mandado de volta a Xambioá, onde ficou preso na base do exército, improvisada no local onde ficava o campo de futebol da cidade. Após duas semanas de mais torturas- principalmente  surras e choques elétricos- - e interrogatórios, o comunista foi enviado de volta á Brasília.

Permaneceu aprisionado e, em janeiro de 1973, foi despachado  parauma prisão militar  em São Paulo.
Só teria sua liberdade de volta no dia 18 de Abril  de 1977, exatamente cinco anos após o dia em que foi atingido pelo tiro disparado  por Júlio Santana, nas matas do Araguaia. 
Fora da prisão , José Genoíno retomou a vida como professor de História. Cinco anos mais tarde, foi eleito deputado federal pelo partido dos Trabalhadores, em são Paulo, com 58 mil votos. Em 1998, seria novamente eleito, para o mesmo cargo, dessa vez com 300 mil votos, o que fez do ex- guerrilheiro o recordista nacional de votos na câmara daquele ano. Somente nessa época, ao ver uma reportagem na TV sobre o êxito do petista, na qual aparecia  a foto de Genoíno capturado  no Araguaia, Júlio Santana ficou sabendo que o homem em quem dera um tiro, em Abril de 1972, havia se tornado um influente político brasileiro (pg 107);
Júlio não conseguiu dormir. A cama da pensão, na qual mal cabia seu corpo de 1,76 metro de altura, parecia ainda mais estreita e desconfortável. A cena que ele vira na tarde daquele dia  não saía da sua cabeça. Pouco depois do almoço, Soldados do Exército e pára-quedistas da Força Aérea Brasileira (FAB), penduraram  de cabeça para baixo, o corpo de um jovem magro, de cabelos escuros e  roupas rasgadas, numa árvore próxima á  base militar que havia sido montada no  campo de futebol de Xambioá.A  cabeça  do cadáver estava suspensa a pouco menos de um metro do chão. Um grupo de dez ou doze militares escarneciam e praguejavam contra o defunto, ao mesmo tempo em que lhe chutavam o rosto  e a nuca. O corpo balançava como  se de um saco se tratasse. Os pontapés  já tinham aberto cortes no rosto do morto. O olho esquerdo , de tão inchado , parecia uma bola vermelha. As pessoas passavam pela rua e olhavam , assustadas, para a cena.
     Como Júlio saberia mais tarde-por meio do delegado Carlos Marra- o corpo era o do cearense Bergson farias, 24 anos . Militante do PC do B, Bergson havia sido  capturado  e morto na manhã daquele mesmo dia- segunda- feira , 8 de Maio de 1972 - por soldados da FAB , nas  matas do Araguaia. Era o corpo massacrado do  jovem comunista, que Júlio se esforçava para esquecer, na tentativa de ter uma noite  de sono tranquilo(pg 110)
Xambioá era uma confusão só. Por causa dos militares que não paravam de chegar- estima-se que, durante a guerrilha do Araguaia , cerca de 4 mil militares atuavam na região-, faltava de tudo. (pg 11). Tudo o que havia de melhor.
    Já fazia pouco mais de duas semanas que Júlio retornara da última operação na selva, durante a qual Genoíno havia sido capturado.Ele continuava dormindo na pensão. Xambioá  era confusão só. Por causa dos  militares que não paravam de chegar- estima-se que durante a guerrilha do Araguaia, cerca de 4 mil militares atuaram na região- faltava de tudo
comida, bebida, cigarro, produtos de limpeza.Tudo o que havia de melhor nos pequenos mercado da cidade, ficava com os homens do Exército, da Marinha e da Fab. Aos poucos, mais de 3 mil moradores, restava ficar com o  que sobrava- hoje, Xambioá tem 13 mil habitantes(pg 110);
Na cidade, Júlio era constantemente escalado para trabalhar para o Exército. Entre as tarefas que recebia, a que mais o incomodava era derrubar árvores para ampliar  a área de acampamento dos militares e para abrir uma pista de pouso para os aviões da FAB . (pg 110);
(....) onde o delegado Carlos Marra lhe passa ria as tarefas do dia, o que, nas últimas três semanas, significava apresentar-se á base militar para ajudar no que fosse preciso. Naquela manhã, Carlos Marra o avisou de que, em dois ou três dias, eles sairiam para mais uma operação de caça aos guerrilheiros nas matas do Araguaia. (pg 117);
No dia 10 de maio, Júlio, Carlos Marra, Emanuel e Forel deixaram Xambioá para mais uma expedição na selva. Passaram seis dias percorrendo a região á procura de comunistas e intimidando moradores a colaborar com o trabalho  do Exército. Não capturaram nenhum integrante do movimento revolucionário , mas o delegado se dizia satisfeito  com os contatos que fizera com os habitantes da região. Em todas  as casas que encontraram no caminho, Marra parava para conversar  com os moradores. Distribuía roupas, ferramentas , remédios e fazia ameaças, dizendo que quem não ajudasse os militares a pegar os guerrilheiros também seria preso e torturado(pg 117);
Dois dias depois do retorno á á cidade. Júlio estava na delegacia, aguardando as ordens de Carlos Marra,, quando quatro militares chegaram trazendo um prisioneiro, com as mãos amarradas para trás.
era tarde da quinta-feira, 18 de Maio e o preso era o barqueiro Lourival Moura, um homem de pele morena e cabelo crespo, também escuro, de uns 40 anos e cerca de 1,70 metro de altura. Um soldado explicou ao delegado que o     prisioneiro estava colaborando como trabalho dos guerrilheiros. (pg 118);
Em poucos minutos, começou a ouvir gritos, que, com o tempo ficavam cada vez mais assustadores. (pg 119;
Júlio esperou os militares desaparecerem de sua vista e entrou para ver como estava o prisioneiro. Encontrou Lourival deitado no chão da cela, apenas de cueca, com cortes nas pernas e hematomas no rosto. (pg 119);
A notícia da prisão do barqueiro logo se espalhou por Xambioá. Lourival Moura morava e trabalhava na região, era conhecido como um homem calmo. No dia seguinte ao da sua prisão, quatro rapazes que trabalhavam com ele foram á delegacia. (pg 120);
No sábado , 20 de Maio, o rapaz acordou ansioso para ver como estava o preso.Não sabia porque, mas acreditava que Lourival dizia verdade quando afirmava não  ter nada a ver com a guerrilha. Estava  errado, como saberia mais tarde, o barqueiro colaborava, sim, com o  trabalho dos comunistas. Júlio chegou  á delegacia por volta das 7h30 da manhã. dois soldados  conversavam , á espera de Carlos Marra, que prometera chegar ás 8h. Á Júlio, eles disseram que o prisioneiro tinha passado á noite bem . O rapaz foi até a cela, e viu Lourival encolhido num canto, coberto com a rede que o filho deixara. Aparentemente, não tinha sido torturado novamente.(pg 121);
A imagem era assustadora. O corpo de Lourival estava suspenso, a meio metro do chão,
 amarrado pelo pescoço a uma viga de madeira do teto e vestido apenas com a cueca.
Os olhos, esbugalhados, pareciam pintados de vermelho.Do lado esquerdo do rosto, o barqueiro  tinha um inchaço roxo, do tamanho  de uma laranja. A barriga apresentava marcas avermelhadas e longas, que Júlio adivinhou ter sido feitas por pauladas com  o cabo da vassoura que viu  no canto da cela.Franziu os olhos e apertou a boca com agonia, ao  notar diversos cortes nas pernas de Lourival . Alguns deles ainda sangravam. As mãos do morto estavam amarradas para trás. (pg 125);
Maria Lúcia Petit da Silva era uma jovem de 22 anos, 1,62 metro de altura, cerca de 45 quilos e usava os cabelos lisos e castanhos, na altura dos ombros. Tinha nariz afilado, olhos escuros e era um pouco estrábica. Formada em Magistério, trabalhava como professora primária, na Escola Aviador Frederico Gustavo dos Santos, em São Paulo. No final de 1969, entrou para o PC do B. A família e aos amigos dizia que seu maior sonho era ajudar na Educação das crianças dos grotões do Brasil  Apresentou-se ao PC do B como voluntária, e logo foi escalada para trabalhar no interior de Goiás. 
Estava feliz. Era exatamente o que ela queria.
Esse pequeno trecho é só uma "degustação" do  que realmente a obra : "O NOME DA MORTE: A História real de Júlio Santana, O Homem que já matou 492 pessoas , da editora Planeta, e do Autor Klester Cavalcanti é capaz de nos oferecer,muito mais temos pra comentar e explorar desta narrativa !













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