sexta-feira, 28 de junho de 2013

DESFECHO DA OBRA: "O NOME DA MORTE"- A história real de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas.Obra publicada em 2006 pela editora Planeta do Brasil( Cavalcanti, Klester).

Maria Lúcia Petit da Silva era uma jovem de 22 anos, 1,62  metro de altura, cerca de 45 quilos e usava  os cabelos lisos e castanhos na altura dos ombros. Tinha nariz afilado, olhos escuros e era um pouco estrábica. Formada em Magistério, trabalhava como professora primária, na Escola Aviador Frederico Gustavo dos Santos, em São Paulo. No final de 1969, entrou  para o PC do B. À família e aos amigos dizia que seu maior sonho era ajudar na educação das crianças dos grotões do Brasil.Apresentou-se ao PC do B como voluntária, e logo foi escalada para trabalhar no interior de Goiás. Estava feliz. Era exatamente o que ela queria.
Em janeiro de 1970, foi para o sul do Pará, de onde seguiria para ajudar no trabalho social da guerrilha, na região do Araguaia. (pg 129).
Passava a maior parte do tempo ensinando as crianças a ler  e a escrever e conversando  com os jovens e adultos, a quem falava do motivo da guerrilha. Sempre dizia que a luta era pela igualdade social do Brasil. Costumava falar que era inaceitável viver num país em que poucos tinham tanto e tantos tinham tão  pouco. Invariavelmente, suas aulas e discursos eram carregados de palavras de carinho. Estava sempre bem- humorada e era muito apegada ás crianças da região. Assim, conquistou a amizade e o respeito  de todos dos povoados do  Araguaia nos quais trabalhava. Não raro, era convidada para ser madrinha das crianças, que haviam acabado  de nascer.
Poucos dias antes de morrer,Maria Lúcia tinha recebido um desses convites.
Havia sido convidada pelo agricultor conhecido como João Cocoió para batizar seu filho de 2 meses de vida. Ela aceitou o convite, sem saber que esse mesmo homem iria entregá-la ao Exército. (pg 129);
Era início de junho de 1972. Os militares faziam todo tipo de pressão para que os habitantes do Araguaia os ajudassem a capturar os comunistas. A violência era  um dos mecanismos  mais utilizados pelo Exército para forçar os moradores a denunciar  a presença de guerrilheiros na região. Os soldados matavam animais das famílias-cavalos, bois, galinhas-espancavam a quem bem entendiam e chegavam até a queimar lavouras  e casas de agricultores. João Cocoiò, um homem  de cerca de 40 anos, casado e pai de Três filhos- incluindo o recém - nascido, de quem Maria Lúcia seria madrinha- já tinha recebido esse  tipo de alerta do Exército, quando teve sua plantação de mandioca incendiada por meia dúzia de soldados. Tinha medo de colocar a sua família em perigo e para que os militares  o deixassem em paz, resolveu  denunciar a presença do  grupo do qual Maria Lúcia fazia parte na região conhecida como Pau Preto , no sul do Pará. 
Como não podiam aparecer nas cidades, sob o risco de serem  reconhecidos e, consequentemente, presos, os guerrilheiros, costumavam pedir aos moradores da região que  comprassem mantimentos , fumo e munição para o movimento rebelde. Coiocó tinha sido encarregado de ir até Xambioá, de onde  deveria trazer cigarro, feijão, arroz, café e munição para os comunistas. Ao chegar á cidade, antes mesmo de fazer as compras, o agricultor foi até a delegacia e relatou tudo á Carlos Marra. 
Cazuza era codinome do pernambucano Miguel Pereira, 29  anos, que morreu no Araguaia , em Setembro de 1972. E Mundico era o baiano  Rosalindo Souza, 33 anos, morto um ano depois, ainda durante a guerrilha. Maria Lúcia, Cazuza e Mundico pertenciam ao destacamento do movimento cuja base ficava na região de Pau Preto, a cerca de 3 quilômetros da casa de João Cocoió. (pg 131);
Os especialistas da Unicamp, comandados pelo legista Fortunato Badan Palhares, então diretor do Departamento de Medicina Legal da Universidade, encontraram resquícios  das roupas, calçados e acessórios que Maria lúcia Petit usava quando foi presa. O cartucho de bala calibre 20 que ela levava no bolso traseiro da calça ainda  estava intacto.
Uma das pessoas que teriam acesso a essas informações era Laura Petit. Três anos mais velha que Maria Lúcia, a caçula da casa, Laura tinha se encarregado da missão de descobrir  o que acontecera á sua irmã, a quem os militares identificavam em seus relatórios  oficiais apenas como "desaparecida", como o Exército fazia com  os rebeldes mortos durante a guerrilha. Ao saber que a ossada da irmã havia sido retirada da terra embrulhada numa lona de náilon  como se fosse um animal , Laura não conseguia resistir ao pensamento de que o mesmo pudesse ter ocorrido aos seus outros dois irmãos: Jaime e Lúcio. Ambos também  atuaram na guerrilha do Araguaia. Ambos também morreram nas selvas da região, com confrontos com o Exército. Jaime morreu em dezembro de 1973, aos 28 anos, e Lúcio, em Abril de 1974, aos 30. Até hoje, Laura Petit só  conseguiu recuperar os restos mortais de Maria Lúcia- não se sabe onde Jaime e Lúcio foram enterrados.
A exumação era apenas o primeiro passo para a identificação do corpo de Maria Lúcia Petit da Silva. Em São Paulo, Laura Petit estava decidida a dedicar  todo o tempo e esforço necessários para que se descobrisse se os restos mortais que os  peritos da Unicamp haviam retirado do cemitério de Xambioá realmente  pertenciam á sua irmã. 
Seria um processo muito mais lento e doloroso  do que Laura poderia imaginar. Durante cinco anos , ela dividiu-se entre o trabalho de professora  e ações que julgava imprescindíveis para saber se aquela  ossada era de Maria Lúcia. Perdeu as contas de quantas vezes foi á Unicamp, na tentativa de conversar com o legista Badan Palhares para pressioná-lo a acelerar a resolução do caso. 
Os meses e anos passavam, e a ossada de Maria Lúcia Petit permanecia esquecida, acondicionada em sacos plásticos ,numa estante de uma sala fria da Unicamp.Uma informação fundamental para a identificação dos restos mortais da guerrilheira foi conseguida graças ao empenho de Laura Petit. No final de abril de 1991, ela entrou em contato com o dentista Jorge Tanaka , que tinha tratado de Maria Lúcia pouco antes de  a jovem viajar  para o Araguaia. Autorizado pelo departamento  de Medicina Legal da Unicamp a analisar a arcada dentária  da ossada recuperada em Xambioá, o médico atestou tratar-se de Maria Lúcia Petit.
Mas a análise do dentista ainda precisava ser confirmada por Badan Palhares e sua equipe, o que só aconteceria cinco anos mais tarde.
Na manhã de 15 de Maio de 1996- quase vinte e quatro anos após a morte de Maria Lúcia-, os especialistas  da Unicamp anunciavam , numa sala da Universidade, a conclusão das análises  realizadas nos restos mortais da guerrilheira , dispostos numa mesa coberta com uma toalha azul.No lado esquerdo da sala, um painel de madeira exibia fotos de Maria Lúcia, antes e depois de ser morta. Na plateia de cerca  de trinta pessoas, havia jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e amigos e familiares de Maria Lúcia. Laura Petit estava sentada na primeira fila, de mãos dadas á mãe, dona Julieta, que jamais se conformaria com o fato de ter perdido três filhos na guerrilha. A pouco mais de 2 metros de distância delas, o legista Badan Palhares fazia a apresentação da ossada. 
Com o crânio da jovem na mão, Badan Palhares apontou, com uma espécie de canudo branco, o local em que o tiro fatal atingiu a guerrilheira. O laudo de trinta páginas- quatorze delas só de fotos- apresentado pelo legista descrevia: 

"PUDEMOS CONSTATAR QUE HAVIA CARACTERÍSTICAS DE SER OSSO DE PESSOA DO SEXO FEMININO"


" A CABEÇA DO FÊMUR ERA BASTANTE DELICADA, ASSIM COMO O ÂNGULO NASAL E O REBORDO ORBITÁRIO FINO, ELEMENTOS QUE NOS INDUZEM A PENSAR EM SER ESQUELETO DE MULHER".


" AS SALIÊNCIAS DOS SEIOS SÃO BEM VISÍVEIS".


Sobre as causas da morte de Maria Lúcia Petit, o documento  apontava que a jovem comunista tinha sido assassinada com dois tiros: um na coxa direita, disparado por um fuzil 7,62, e outro na cabeça " no osso parietal esquerdo, típico de passagem de projétil de arma de fogo, que teve direção de baixo para cima e de trás para a frente"- o tiro disparado por Júlio Santana. Com a confirmação científica, estava concluída a identificação do primeiro corpo de um comunista  morto na guerrilha do Araguaia. Até hoje, Maria Lúcia Petit é a única pessoa do movimento rebelde  que morreu em confrontos com as forças militares a ter o corpo exumado e identificado - estima-se que cerca de sessenta comunistas tenham sido mortos na guerrilha. 
O Exército jamais divulgou os nomes dos homens que deram os tiros que  mataram a jovem comunista, naquela manhã de 16 de junho de 1972. Júlio Santana nunca soube o nome da moça que matou em seu segundo homicídio.
(pg 141 á 143)

Exatamente uma semana após matar Lúcia Pettit, Júlio Santana completava 18 anos. Naquela sexta-feira, 23 de Junho de 1972, ele acordou antes do amanhecer. Desde o dia em que assassinara a jovem guerrilheira, não conseguia dormir direito.
(...) situação da guerrilha do Araguaia. Os militares continuavam capturando  e matando comunistas e moradores  que colaboravam com o movimento. Um  dos episódios mais assustadores dos últimos dias- contou o motorista- tinha sido  a decapitação de um jovem guerrilheiro. Os soldados chegaram a passar pelas ruas de Xambioá carregando nas mãos a cabeça do homem. (pg 155);

Desde meados de 1980, o tio Cícero Santana comentava com ele sobre a enorme quantidade de pessoas, de várias partes do Brasil  que iam  a Serra Pelada na esperança de encontrar ouro e enriquecer. Á época, a recente descoberta do minério havia transformado a região numa espécie de eldorado, com cerca de 20 mil homens escavando a Serra dos Carajás á procura de pedras douradas. O êxodo foi tamanho que, pouco mais de um ano depois- em setembro de 1981-, já eram quase 80 mil garimpeiros vivendo e trabalhando em Serra Pelada. Poucas cidades do Pará tinham tanta gente. 
Júlio ficou impressionado em saber que aquele minúsculo pedaço de ouro podia valer tanto- na época, o salário mínimo era de 8.460 cruzeiros e 1 grama de ouro era vendido em Serra Pelada por 900 cruzeiros(pg 175);

Em junho de 1972, Júlio matou , durante a guerrilha do Araguaia, a comunista Maria Lúcia Petit da Silva, á época com 22 anos. A jovem , que era professora, trabalhava na educação das crianças  da região. No dia  do crime, um dos militares que participou da emboscada fez uma foto da guerrilheira morta para identificação. Os restos mortais de Maria Lúcia Petit só seriam identificados em Maio de 1996- quase vinte e quatro anos após o assassinato - , por uma equipe de especialistas da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp), em São Paulo. 
Aos 52 anos, Júlio se dizia exausto daquela vida desgraçada, de matar um aqui e outro acolá.Além disso, não tinha mais agilidade, a força e a visão aguçada do passado. (pg 213);

" Era Novembro de 1983, e Júlio havia sido contratado por um agiota de Teresina, no Piauí, para matar um bancário que lhe devia dinheiro . Pelo crime, receberia 550 mil cruzeiros, pouco menos de dez sala´rios mínimos da época, que era  de 57. 120 cruzeiros. pg 218.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Resenha da obra de Klester Cavalcanti

" Aviso aos navegantes: O homem que matou centenas de pessoas é uma dessas figuras inacreditáveis que fazem do Brasil um colorido catálogo de espantos. 
Klester Cavalcanti atuou dois anos como correspondente da revista veja na Amazônia" (pg 13);
" Em sua obra , faz um trabalho de reconstituição de cenas, diálogos, paisagens, gestos, sensações, num dedicado exercício de arqueologia jornalística "(pg 13);
Espantos de todos os calibres povoam as páginas deste livro. Quer saber qual pode ser o preço de uma vida? Algo como 30 quilos de arroz, 20 de feijão, 10 de café, 10 de açúcar, 5 de queijo, 10 latas de óleo, 12 garrafas de cachaça. ( pg. 13);
Quer saber quais são os mandamentos  d matador? 
O primeiro é: não matar uma mulher grávida. 
O segundo: não roubar bens da vítima.


O terceiro: não matar outros pistoleiros.

O quarto: não deixar o pagamento pra depois.
O quinto: não matar a vítima enquanto ela estiver dormindo. (pg 13)
" Foram necessários sete anos de conversas para que Júlio Santana me autorizasse a colocar o seu verdadeiro nome neste livro. Na primeira vez em que nos falamos, em Março de 1999, ele concordou em me contar sua história , mas não queria revelar sua identidade, nem permitir que eu- ou qualquer pessoa o fotografasse(pg  15 );
O homem com quem eu passava a conversar- a partir daquele dia- a uma média de uma entrevista por mês- é um assassino profissional que, em 35 anos de trabalho, já matou quase 500 pessoas. Mais precisamente, 492 mortes, das quais 487 foram devidamente registradas num caderno, com data, local do crime, quanto ele recebeu pelo serviço e, o mais importante, os nomes dos mandantes e da vítimas( pg 15);
Meu primeiro  contato com esse intrigante cidadão  brasileiro ocorreu durante a produção de uma  reportagem sobre trabalho escravo. Á época, Março de 1999, eu era correspondente da revista Veja na Amazônia  função que desempenhei durante pouco mais de dois anos.
Para a referida reportagem, eu e o fotógrafo Junduari Simões,viajamos a várias cidades do Pará,á procura de pessoas que já tinham sido escravizadas e de fazendeiros que mantinham escravos  em suas propriedades. (pg 15);
Nos últimos sete anos, mantive minhas conversas com o homem  que já matou quase 500 pessoas e que  nunca teve outra atividade profissional na vida.
A cada telefonema, nossa relação ficava mais estreita.Sentia que ele passava a confiar mais em mim e a contar  suas histórias de forma cada vez mais sincera e emocionada. Vez ou outra, eu voltava a falar sobre minha vontade de relatar sua vida(....);
(pg 17);
Em janeiro de 2006, durante uma conversa, Júlio me disse que tinha decidido largar a vida  de matador para viver com a mulher e os dois filhos em outro estado, longe do Maranhão.(pg 17). Morando  em outro  estado, e levando uma vida totalmente diferente de que tinha até então, ele jamais seria encontrado pela polícia(pg 17);
Com três blocos de anotações preenchidos exclusivamente com as minhas conversas  com Júlio, passei a outra fase  do trabalho: procurar outras fontes, como  documentos e pessoas, que confirmassem- ou não- os relatos  do protagonista deste livro. Nessa busca, entrevistei quase quarenta pessoas- de policiais a garimpeiros que trabalharam em Serra Pelada,passando por parentes de pessoas assassinadas por Júlio- e tive acesso a inquéritos policiais e a processos judiciais.
Um dos depoimentos mais surpreendentes foi o do ex-deputado e ex- presidente do Partido dos trabalhadores, José Genoíno Neto. Num de seus relatos , Júlio Santana havia dito que tinha participado da captura de José Genoíno durante  a Guerrilha do Araguaia, em Abril de 1972.
Para atestar a veracidade dessa história, marquei uma entrevista com Genoíno, na sua casa, em São Paulo. Durante a conversa, falei á Genoíno que uma fonte minha- não revelei quem era- havia dito que participara da sua captura no Araguaia. Contei a História de acordo com tudo o que Júlio me dissera, incluindo detalhes mínimos, como, por exemplo, a cor do cachorro que estava na cabana na qual prenderam o então guerrilheiro. Genoíno  lembra até de que, no grupo que o capturou, havia  um rapaz bem mais jovem do que os outros integrantes. Era Júlio Santana , que, á época, tinha 17 anos. (pg 18);
A história que você lerá nas páginas a seguir, retrata a vida de um homem que nasceu numa vila no meio da selva Amazônica e que tinha tudo para se tornar  um pescador pacato, esquecido nos rincões da floresta, como tantos que existem na Amazônia. Uma gente abandonada pelas autoridades e pelo governo, em cujos povoados até hoje não há energia elétrica, água encanada, esgoto, escolas, postos de saúde, onde a segurança é inexistente e a polícia não põe os pés.(pg 19).
Desse mundo fabuloso e inóspito , saiu Júlio Santana, um brasileiro que passou a vida matando brasileiros. E engana-se quem pensa que os crimes aconteciam apenas nos cafundós da Amazônia. em seus 35 anos de profissão , Júlio matou pessoas em vários estados, incluindo São Paulo, Paraná, Bahia e Goiás.Mas sempre se  orgulhou em declarar que jamais assassinou ninguém por ódio ou  vontade própria. " Só mato  quando me pagam pra matar", ele me disse inúmeras vezes E apesar das quase 500 mortes que carrega nos ombros, Júlio Santana só foi preso uma única vez, em Maio de 1987.(pg 19);
" Para um garoto que acabara de completar 17 anos e que  nunca tinha dado um tiro numa pessoa, no entanto, a tarefa não parecia tão simples(pg 21);
Com 1,76 metros de altura e 65 quilos, Júlio era magro , tinha o rosto ainda imberbe, nariz largo  , lábios frios e cabelos crespos, escuros. A pele morena realçava os olhos castanho-claros. Naquela tarde de 7 de agosto de 1971, ele tentava fazer o que  seu tio, o policial militar Cícero Santana, lhe ordenara na noite anterior(...) (pg 21);
" Á época com 31 anos, Cícero Santana havia crescido naquela mesma região.. Ao completar 15 anos, foi tentar a vida em Imperatriz, também no Maranhão. certo dia, apareceu  em Porto franco  vestido de soldado e dizendo que tinha entrado  para a Polícia Militar. era o orgulho  da Família. Cícero adorava caçar, pescar, andar pela mata.. Foi com ele que Júlio aprendeu a atirar. Aos 11 anos, o garoto já conseguia acertar um animal "do outro lado do rio", a uma distância de cerca de 100 metros. (pg 23).
" Primeiramente, Cícero, fez uma revelação  que deixou Júlio surpreso  e assustado. Para aumentar seus ganhos, conciliava o trabalho  na Polícia Militar com uma atividade pouco usual.. Era matador de aluguel.Tinha entrado para o mundo da pistolagem , havia quase dois anos.Júlio quis não acreditar no que ouvia. . o tio que ele tanto amava era um assassino. Um homeme que matava pessoas por dinheiro. (....) (pg 29);
 Ele contou a Júlio que , certa vez, em Outubro de 1969, durante uma operação da PM  o batalhão do qual fazia parte prendeu três homens  suspeitos de serem os executores de quatro trabalhadores  rurais nas redondezas do município de São francisco do Brejão, no oeste do Maranhão.
"" Os mandantes dos assassinos pagavam  cerca de mil cruzeiros  ao pistoleiro- mais de quatro vezes  o valor do salário mínimo  da época, que era de 225 cruzeiros(pg 29);
" Não parava  de pensar em como seria  matar uma pessoa. Assim tinha  aprendido com os pais , ambos devotos, de São  Jorge e que todo  domingo iam á missa na igrejinha de madeira da comunidade. Quem desobedece á Deus é castigado e vai para o inferno . E Júlio não queria nem uma coisa ou outra. (pg 37);
" O único par de sapatos que tinha- um tênis Conga, azul-marinho, que ganhara ao completar 16 anos- ainda estava praticamente novo. Só calçava o tênis para ir á missa , aos domingos."(pg 67);
O rapaz passou o resto da tarde acompanhando Marra pela cidade. Soube que toda  aquela tropa  de militares que infestavam Xambioá, pertencia  ás três forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Tudo para combater os comunistas. Conheceu as bases militares improvisadas na cidade.
O campo de futebol fora transformado  em pista de pouso e tinha uma grande cabana, capaz de abrigar até 30 homens  e que funcionava como ambulatório e dormitório para recrutas. 
" Ainda não havia  se acostumado com a intensa movimentação  de Jipes e caminhões  militares. Diariamente, fazia uma visita de 10 ou 15 minutos ao delegado  Marra, na delegacia, para saber se já tinha sido definido o dia da próxima incursão do grupo ás selvas do Araguaia.(pg 73);
No percurso até a região do rio gameleira, o grupo conversava sobre mulheres , futebol e comunistas. (pg 77);
Nos cinco dias que se seguiram, a rotina do grupo se manteve inalterada. Dias inteiros caminhando nas matas fechadas do Araguaia, debaixo de um calor  insuportável sob ataques constantes de insetos.Já tinham conversado com diversos moradores  da região- a maioria lavradores- e até  subornado alguns com remédios e roupas. Muitos prometeram ficar de olho nos comunistas para ajudar em operações futuras(pg 79);
(...) O delegado lembrou que, caso encontrassem algum guerrilheiro  na mata, não deveriam, em hipótese alguma, atirar  para matar. O objetivo era capturar os comunistas para interrogatório. Só assim saberiam onde ficavam as bases de apoio do movimento e o Exército poderia , então , acabar de vez com a guerrilha. (pg 81);
( ...) disse Carlos Marra- Quero que vocês prestem bastante atenção no que eu vou falar agora. 
Como já está provado que Julão tem a melhor pontaria do grupo, se a gente encontrar algum comunista e tiver de atirar, quem dará o primeiro  disparo será o garoto(pg 83);
Para o caso de precisarem dormir na selva- o que nenhum deles queria- levavam as redes e uma grande panela  de ferro, cheia  de arroz, farofa de ovo, e pedaços de carne seca assada.. Na mochila de Tonho, havia um pouco de café, um punhado de sal grosso, meia dúzia de limões e tr~es latas de sardinha(....)Pg  85;
Por volta das 2 horas da tarde, encontraram pegadas frescas, nas matas no entorno do Rio Gameleira. Pelo tamanho das marcas e espaçamento entre uma pegada e outra, Júlio deduziu que tinham  sido deixadas por um homem de cerca de 1, 80 metro de altura. (pg 85)
Depois de matar a sede, Júlio retomou a trilha, correndo ainda mais apressadamente do que quando viera. tinha receio de que o comunista chegasse ao local onde seus amigos  estavam e os pegasse de surpresa. Ou de que  o grupo capturasse o guerrilheiro sem ele estar por perto(pg 89);
-Homem é que nem bicho (...) Só corre se sentir que está sendo seguido ou que está em perigo (....)pg 89; 
Como esse comunista não sabe que a gente está atrás dele, ele deve estar todo calminho. (pg 89);
Para Carlos Marra, a arma era um forte indício do envolvimento de genoino no movimento rebelde. (pg 95);
José Genoíno continuava deitado. Parecia desacordado. Mas estava apenas descansando, depois da sova que o deixara com hematomas nas costas, pernas e barriga(pg 97);
Duas coisas perturbavam Carlos Marra: onde estaria o helicóptero que ele havia pedido para levá-los de volta a Xambioá, e como poderia  arrancar do guerrilheiro as informações que queria? Em relação ao primeiro problema, não poderia fazer nada  anão ser esperar. No segundo caso, retomar as sessões de tortura parecia-lhe  a melhor opção (...) quando o delegado ordenou aos seus homens que voltassem a espancar o prisioneiro(pg 97);
Genoíno quis não acreditar que começaria tudo de novo. Júlio virou as costas, para não ver a surra. Apenas ouvia os gemidos de dor. Não demorou até Marra ter uma ideia que Júlio achou ainda mais cruel do que já tinha visto até aquele momento. Seguindo ordens do delegado, Ricardo pegou duas latas de sardinha vazias e colocou-as no chão, com a parte que tinha sido aberta á faca para cima. Tonho , Emanuel e Forel forçaram o jovem comunista a ficar de pé sobre as latas. Genoíno sentia as bordas pontiagudas das latas rasgarem a sola dos seus pés. Trincava os dentes e apertava os olhos de dor. Forel segurava o guerrilheiro pelos cabelos (pg 97);

Na capital federal, José genoino Neto teve sua identidade comprovada. Era, de fato, um comunista filiado ao PC do B e que, inclusive, já havia sido preso, em outubro  de 1968, na cidade paulista de Ibiúna, por sua atuação política. . Logo concluíram que o rapaz  era um dos líderes da guerrilha do Araguaia. Um mês depois, foi mandado de volta a Xambioá, onde ficou preso na base do exército, improvisada no local onde ficava o campo de futebol da cidade. Após duas semanas de mais torturas- principalmente  surras e choques elétricos- - e interrogatórios, o comunista foi enviado de volta á Brasília.

Permaneceu aprisionado e, em janeiro de 1973, foi despachado  parauma prisão militar  em São Paulo.
Só teria sua liberdade de volta no dia 18 de Abril  de 1977, exatamente cinco anos após o dia em que foi atingido pelo tiro disparado  por Júlio Santana, nas matas do Araguaia. 
Fora da prisão , José Genoíno retomou a vida como professor de História. Cinco anos mais tarde, foi eleito deputado federal pelo partido dos Trabalhadores, em são Paulo, com 58 mil votos. Em 1998, seria novamente eleito, para o mesmo cargo, dessa vez com 300 mil votos, o que fez do ex- guerrilheiro o recordista nacional de votos na câmara daquele ano. Somente nessa época, ao ver uma reportagem na TV sobre o êxito do petista, na qual aparecia  a foto de Genoíno capturado  no Araguaia, Júlio Santana ficou sabendo que o homem em quem dera um tiro, em Abril de 1972, havia se tornado um influente político brasileiro (pg 107);
Júlio não conseguiu dormir. A cama da pensão, na qual mal cabia seu corpo de 1,76 metro de altura, parecia ainda mais estreita e desconfortável. A cena que ele vira na tarde daquele dia  não saía da sua cabeça. Pouco depois do almoço, Soldados do Exército e pára-quedistas da Força Aérea Brasileira (FAB), penduraram  de cabeça para baixo, o corpo de um jovem magro, de cabelos escuros e  roupas rasgadas, numa árvore próxima á  base militar que havia sido montada no  campo de futebol de Xambioá.A  cabeça  do cadáver estava suspensa a pouco menos de um metro do chão. Um grupo de dez ou doze militares escarneciam e praguejavam contra o defunto, ao mesmo tempo em que lhe chutavam o rosto  e a nuca. O corpo balançava como  se de um saco se tratasse. Os pontapés  já tinham aberto cortes no rosto do morto. O olho esquerdo , de tão inchado , parecia uma bola vermelha. As pessoas passavam pela rua e olhavam , assustadas, para a cena.
     Como Júlio saberia mais tarde-por meio do delegado Carlos Marra- o corpo era o do cearense Bergson farias, 24 anos . Militante do PC do B, Bergson havia sido  capturado  e morto na manhã daquele mesmo dia- segunda- feira , 8 de Maio de 1972 - por soldados da FAB , nas  matas do Araguaia. Era o corpo massacrado do  jovem comunista, que Júlio se esforçava para esquecer, na tentativa de ter uma noite  de sono tranquilo(pg 110)
Xambioá era uma confusão só. Por causa dos militares que não paravam de chegar- estima-se que, durante a guerrilha do Araguaia , cerca de 4 mil militares atuavam na região-, faltava de tudo. (pg 11). Tudo o que havia de melhor.
    Já fazia pouco mais de duas semanas que Júlio retornara da última operação na selva, durante a qual Genoíno havia sido capturado.Ele continuava dormindo na pensão. Xambioá  era confusão só. Por causa dos  militares que não paravam de chegar- estima-se que durante a guerrilha do Araguaia, cerca de 4 mil militares atuaram na região- faltava de tudo
comida, bebida, cigarro, produtos de limpeza.Tudo o que havia de melhor nos pequenos mercado da cidade, ficava com os homens do Exército, da Marinha e da Fab. Aos poucos, mais de 3 mil moradores, restava ficar com o  que sobrava- hoje, Xambioá tem 13 mil habitantes(pg 110);
Na cidade, Júlio era constantemente escalado para trabalhar para o Exército. Entre as tarefas que recebia, a que mais o incomodava era derrubar árvores para ampliar  a área de acampamento dos militares e para abrir uma pista de pouso para os aviões da FAB . (pg 110);
(....) onde o delegado Carlos Marra lhe passa ria as tarefas do dia, o que, nas últimas três semanas, significava apresentar-se á base militar para ajudar no que fosse preciso. Naquela manhã, Carlos Marra o avisou de que, em dois ou três dias, eles sairiam para mais uma operação de caça aos guerrilheiros nas matas do Araguaia. (pg 117);
No dia 10 de maio, Júlio, Carlos Marra, Emanuel e Forel deixaram Xambioá para mais uma expedição na selva. Passaram seis dias percorrendo a região á procura de comunistas e intimidando moradores a colaborar com o trabalho  do Exército. Não capturaram nenhum integrante do movimento revolucionário , mas o delegado se dizia satisfeito  com os contatos que fizera com os habitantes da região. Em todas  as casas que encontraram no caminho, Marra parava para conversar  com os moradores. Distribuía roupas, ferramentas , remédios e fazia ameaças, dizendo que quem não ajudasse os militares a pegar os guerrilheiros também seria preso e torturado(pg 117);
Dois dias depois do retorno á á cidade. Júlio estava na delegacia, aguardando as ordens de Carlos Marra,, quando quatro militares chegaram trazendo um prisioneiro, com as mãos amarradas para trás.
era tarde da quinta-feira, 18 de Maio e o preso era o barqueiro Lourival Moura, um homem de pele morena e cabelo crespo, também escuro, de uns 40 anos e cerca de 1,70 metro de altura. Um soldado explicou ao delegado que o     prisioneiro estava colaborando como trabalho dos guerrilheiros. (pg 118);
Em poucos minutos, começou a ouvir gritos, que, com o tempo ficavam cada vez mais assustadores. (pg 119;
Júlio esperou os militares desaparecerem de sua vista e entrou para ver como estava o prisioneiro. Encontrou Lourival deitado no chão da cela, apenas de cueca, com cortes nas pernas e hematomas no rosto. (pg 119);
A notícia da prisão do barqueiro logo se espalhou por Xambioá. Lourival Moura morava e trabalhava na região, era conhecido como um homem calmo. No dia seguinte ao da sua prisão, quatro rapazes que trabalhavam com ele foram á delegacia. (pg 120);
No sábado , 20 de Maio, o rapaz acordou ansioso para ver como estava o preso.Não sabia porque, mas acreditava que Lourival dizia verdade quando afirmava não  ter nada a ver com a guerrilha. Estava  errado, como saberia mais tarde, o barqueiro colaborava, sim, com o  trabalho dos comunistas. Júlio chegou  á delegacia por volta das 7h30 da manhã. dois soldados  conversavam , á espera de Carlos Marra, que prometera chegar ás 8h. Á Júlio, eles disseram que o prisioneiro tinha passado á noite bem . O rapaz foi até a cela, e viu Lourival encolhido num canto, coberto com a rede que o filho deixara. Aparentemente, não tinha sido torturado novamente.(pg 121);
A imagem era assustadora. O corpo de Lourival estava suspenso, a meio metro do chão,
 amarrado pelo pescoço a uma viga de madeira do teto e vestido apenas com a cueca.
Os olhos, esbugalhados, pareciam pintados de vermelho.Do lado esquerdo do rosto, o barqueiro  tinha um inchaço roxo, do tamanho  de uma laranja. A barriga apresentava marcas avermelhadas e longas, que Júlio adivinhou ter sido feitas por pauladas com  o cabo da vassoura que viu  no canto da cela.Franziu os olhos e apertou a boca com agonia, ao  notar diversos cortes nas pernas de Lourival . Alguns deles ainda sangravam. As mãos do morto estavam amarradas para trás. (pg 125);
Maria Lúcia Petit da Silva era uma jovem de 22 anos, 1,62 metro de altura, cerca de 45 quilos e usava os cabelos lisos e castanhos, na altura dos ombros. Tinha nariz afilado, olhos escuros e era um pouco estrábica. Formada em Magistério, trabalhava como professora primária, na Escola Aviador Frederico Gustavo dos Santos, em São Paulo. No final de 1969, entrou para o PC do B. A família e aos amigos dizia que seu maior sonho era ajudar na Educação das crianças dos grotões do Brasil  Apresentou-se ao PC do B como voluntária, e logo foi escalada para trabalhar no interior de Goiás. 
Estava feliz. Era exatamente o que ela queria.
Esse pequeno trecho é só uma "degustação" do  que realmente a obra : "O NOME DA MORTE: A História real de Júlio Santana, O Homem que já matou 492 pessoas , da editora Planeta, e do Autor Klester Cavalcanti é capaz de nos oferecer,muito mais temos pra comentar e explorar desta narrativa !













domingo, 23 de junho de 2013

A volta triunfante de um pesquisador por excelência:

Fiéis leitores de meu blog: _ de vez em quando costumo dar uma"sumidinha",( é proposital mesmo!), mas estejam cientes que quando dou um "chá de sumiço", certamente é por que estou reciclando minhas fontes, elaborando novos textos,buscando novas informações para todos vocês!E é nesse novo contexto histórico, os das manifestações populares, das reivindicações em geral , das passeatas, que tem ocorrido ultimamente , ou seja , deste período em que nossa excelentíssima presidente veio a ser vaiada publicamente , e o dos escândalos envolvidos em assuntos como Copa das Confederações e Copa do mundo, gastos públicos, inflação, corrupção vindos á tona,e expostos á flor da pele ,  a eclodir  mundialmente , é que resolvi aparecer,porém  trago boas novidades, como , por exemplo , os comentários que irei  realizar em torno da seguinte obra por mim lida e relida com muito prazer e dedicação intitulada:

Cavalcanti,  Klester.
O nome da morte: a história real de Júlio Santana / Klester Cavalcanti - São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2006.