O bem--estar da maioria e o bem- estar da minoria são dois pontos de vista axiologicamente opostos: considerar em si, de uma só vez, o primeiro como aquele que possui mais valor é o que deixaremos á simplicidade dos biólogos ingleses... Todas as ciências devem preparar a tarefa do futuro do filósofo; essa tarefa consiste em que o filósofo deve resolver o problema do valor, deve determinar a hierarquia dos valores. página 82;
Educar um animal que pode fazer promessas, não é a tarefa paradoxal que a natureza se impôs com relação ao homem?Não é esse o verdadeiro problema do homem? ... A certeza de que esse, é esse o verdadeiro problema do homem?... A certeza de que esse problema foi de fato resolvido em larga medida parecerá tanto mais marcante para quem sabe apreciar em seu justo valor a força que exerce uma ação contrária, aquela da tendência ao esquecimento. (página 85);
O homem , em quem não funciona esse aparelho de entrave está deteriorado e fora de uso, é comparável a um dispéptico ( e não somente comparável), nunca chega "ao fim" de nada... È justamente esse animal inclinado necessariamente ao esquecimento, para quem o esquecimento representa uma força, uma forma de saúde robusta, que criou para si uma faculdade contrária, uma memória por meio da qual, em certos casos, a tendência ao esquecimento fica suspensa[..........] . página 86;
È justamente isso que constitui a longa História da origem da responsabilidade. Essa tarefa, educar um animal que possa fazer promessas, pressupõe, como já foi dito, á título de condição e de preparação, a tarefa mais imediata, a de começar por tornar o homem , até certo ponto necessário, uniforme , semelhante entre os semelhantes, regular e, por conseguinte, calculável. página 88.
[.... .] graças á moralidade dos costumes e á camisa de força social, o homem chegou a ser realmente calculável.( página 88);Esse homem que que se tornou livre, que tem realmente o direito de prometer , esse senhor de vontade livre, esse soberano- como poderia ignorar quanta superioridade lhe é assim conferida sobre tudo o que não não tem direito de prometer nem de responder por si mesmo, quanta confiança , quanto temor e quanto respeito inspira-lhe," merece" os três- quanto esse domínio de si lhe confere necessariamente também o domínio das circunstâncias, da natureza, da natureza e todas as criaturas de vontade mais diminuta e menos confiáveis? O homem "livre" , o detenta de uma vasta vontade , indestrutível, apresenta igualmente nessa posse seu critério de medida do valor: é considerando o outro a partir de si mesmo que o respeita ou o despreza; e assim como respeita necessariamente seus semelhantes , os fortes e confiáveis( aqueles que estão no direito de prometer)- portanto, qualquer um que prometa como soberano , difícil, rara, lentamente, quem é avaro de sua confiança, quem transmite distinção quando dá confiança , quem dá sua palavra como alguma coisa sobre a qual se pode contar, por que se sente capaz de cumpri-la , mesmo diante dos acidentes ,mesmo "perante o destino";( página 90)
Fonte: Sindicato Nacional dos Editores de Livros,SP,
Nietzsche Friedrich Wilhelm
C33i- A Genealogia da Moral/ Friedrich Wilhelm Nietzche; com prólogo de Ciro Mioranza; tradução de Antonio Carlos Braga.
São Paulo ; Escala , 2013.
HistoriadorLegal
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
As melhores refexões de Nietzsche em"A Genealogia da Moral" extraídas da Coleção essencial de Nietzsche, da editora escala em 2013:
O livro "A Genealogia da Moral" é um questionamento não somente das origens da moralidade na história do homem, mas também de sua aplicação em todos os atos do ser humano.-página 7;
A falta, o pecado, o erro, enfim, seriam decorrência realmente de uma má ação ou de um conceito que procurou inserir no pensamento humano um sentido do que é bom em si e, em decorrência de algo que, em contraposição é mau? página 07.
O bom e o mau como atos existem em si como consequência da existência de uma consciência boa e de uma consciência má ou seriam simplesmente figuras inventadas pelos espíritos que se consideram superiores para poder escravizar os espíritos inferiores?página 07.
Para conseguir inculcar no homem todos esses princípios fabricados á partir de uma vontade de poder de alguns, surge a moral que distingue não valores de valores ou a inexistência de valores diante daquilo que deve ser realmente considerado e tido como valor. página 08;
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em
Röcken, Alemanha, no dia dia 15 de Outubro de 1844. Órfão de pai aos 5 anos de idade, foi instruído pela mãe nos rígidos princípios da religião cristã.Cursou teologia e filologia clássica na Universidade de Bonn. Lecionou Filologia na Universidade de Basileia na Suíça, de 1868 a 1879,ano que em que deixou a cátedra por doença. Passou á receber, á título de pensão, 3000 francos suíços que lhe permitiam viajar e financiar a publicação de seus livros. empreendeu muitas viagens pela Costa Azul francesa e pela Itália, desfrutando de seu tempo para escrever e conviver com amigos e intelectuais.
Não conseguindo levar a termo uma grande aspiração,a de casar-se com Lou Andreas Salomé, por causa da sífilis contraída em 1866, entregou-se á solidão e ao sofrimento, isolando-se em sua casa, na companhia de sua mãe e de sua meia irmã. Atingindo por crises de loucura em 1889, passou os últimos anos de sua vida recluso, vindo a falecer no dia 25 de agosto de 1900, em W eimar. página 11.
" Qual é definitivamente a origem de nossa ideia do bem e do mal? " De fato, o problema da origem do mal já me perseguia quando não tinha mais que treze anos: na idade em que " Deus e os brinquedos da infância enchem meio a meio o coração ", consagrei a esta questão minhas primeiras brincadeiras literárias, minha primeira redação filosófica .página 20.
Um mínimo de formação histórica e filosófica e certo tato inato da exigência relacionada a questões psicológicas em geral, logo transformaram meu problema neste outro: em que condições o homem inventou essas apreciações de valor de bem e de mal? E que valor tem em si mesmas? página 20.
Vamos formular essa nova exigência: necessitamos de uma crítica dos valores morais e, antes de tudo, torna-se necessário discutir o valor desses valores- e para tanto é necessário conhecer as condições e os ambientes em que nasceram, em favor das quais sew desenvolveram e nas quais se deformaram ( a moral como consequência, como sintoma, como máscara, como hipocrisia, como doença, como equívoco, mas também a moral como causa, como remédio, estimulante, inibição, veneno, um conhecimento que nunca existiu até hoje e como nunca se desejou um igual. (p.26);
De fato, a alegria de espírito ou, para dizê-lo em minha linguagem, a gaia ciência, é uma recompensa: recompensa de um longo esforço corajoso, duro e subterrâneo, reservado realmente a poucos.P.28);
" se há gente que julga este livro incompreensível, se lhe ferir os ouvidos, parece-me que a culpa não é necessariamente minha"(p.29);
Alerta, portanto, diante desses espíritos benevolentes que governam talvez esses historiadores da moral! Mas é infelizmente certo que lhes falta o espírito histórico, que foram abandonados á sua própria ssorte por todos os espíritos benevolentes da história! Pensam , segundo é velha tradição nos filósofos do passado, de uma maneira essencialmente anti-histórico.(p.35);
De início, o termo " puro" designa simplesmente um homem que se lava, que se abstém de certos alimentos que provocam doenças de pele, que não deita com mulheres sujas da plebe e que tem horror ao sangue- nada mais que isso.(p.44);
Os juízos de valor das aristocracias de cavaleiros se baseiam numa vitalidade física poderosa, numa saúde em plena forma, rica, até mesmo transbordante, para a qual contribui por sua conservação e guerra, as aventuras, a caça, a dança, os jogos e em geral tudo o que implica uma atividade forte, livre, alegre.
Os sacerdotes são, e isso é sabido de todos, os inimigos mais malignos- por quê? Porque são os mais desprovidos de poder? `E essa impotência que faz crescer neles um ódio monstruosos, inquietante, até torná-lo supremamente espiritual e supremamente venenoso.página 47;
Os grandes homens de ódio na história Universal foram sempre sacerdotes, e também os homens de ódio mais engenhosos- comparando-se como o espírito de vingança dos sacerdotes, todo o resto do espírito geralmente não merece consideração. A história humana seria uma coisa realmente insípida sem o espírito que lhe insuflaram os homens desprovidos de poderes- relembremos o exemplo mais notável. (p.47);
[...] os judeus, esse povo de sacerdotes, que não souberam por fim tirar satisfação de seus inimigos e conquistadores se não por meio de uma radical inversão de seus valores, isto é, por meio de um ato de vingança supremamente espiritual. (p.48);
.Foram abolidos os "senhores", venceu a moral do povo. Pode-se muito bem considerar simultaneamente essa vitória como um envenenamento de sangue( ela misturou as raças)- não digo o contrário: mas não há o que duvidar, essa intoxicação teve sucesso. (p 51);
A " redenção" da espécie humana ( a saber, sob o prisma dos"senhores" está no melhor caminho possível; tudo se judaíza ou se cristianiza ou se plebeíza a olhos vistos( que importam as palavras!)
A rebelião dos escravos em moral começa com o fato que o próprio ressentimento se torna ele próprio criador e gera valores; o ressentimento desses seres, aos quais a verdadeira reação, aquela da ação, é interdita e que não se contenta senão com uma vingança imaginária. (p.52).
Enquanto toda a moral nobre precede de uma triunfante afirmação de si mesma, a moral de escravos desde o início diz não a um " no exterior", a um " de outro modo" , a um " não ele mesmo"; e é esse não que é seu ato criador. página 52;
O contrário acontece na avaliação do nobre: age e cresce espontaneamente, não procura seu oponenete para dizer sim a si mesmo com maior reconhecimento ainda, com mais alegria- seu conceito negativo de "vil", de "comum", de "mau", não é senão um pálido contraste de surgimento tardio, comparado a seu conceito fundamental positivo, impregnado de ponta aponta de vida e de paixão " nós os nobres, nós os bons, nós os formosos , nós os felizes!
Uma raça de homens do ressentimento desse tipo acabará necessariamente por ser mais inteligente do que qualquer raça por mais nobre que seja e haverá de honrar também essa inteligência além de qualquer medida, isto é, como uma condição de existência de primeira ordem, enquanto que, entre os nobres, essa inteligência apresenta facilmente um sutil gosto pelo luxo e pelo refinamento {...] página 56;
Mas não é o mesmo conceito de "bom": que se pergunte antes quem precisamente é " mau" , no sentido da moral do ressentimento . Para responder com todo o rigor: o "bom" da outra moral é justamente o nobre, o poderoso, o dominador, se não for revestido de outra cor, reinterpretado, revisto pelo olho venenoso do ressentimento. página 58;
Supondo que seja verdade o que somos levados a aceitar hoje como "verdade", ou seja, que o sentido de toda cultura é justamente domesticar o predador "homem" para fazer dela um animal pacato e civilizado um animal doméstico, deveríamos então considerar, sem a menor dúvida!
Como verdadeiros instrumentos de cultura todos esses instintos de reação e de ressentimento, graças aos quais acabamos por romper e subjugar as linhagens nobres com seus ideais, isso não significaria dizer que os depositários daqueles instintos representariam por si mesmo a cultura. página 61.
um homem que justifica o homem, um homem que seja uma vez feliz, complementar e redentor,por amor do qual se esteja no direito de manter a fé no homem !... de fato, as coisas são assim: é na pequenez e na igualdade do homem europeu que reside nosso pior perigo, pois o espetáculo cansa .....página 64.
Uma quantidade de força corresponde exatamente á mesma quantidade de impulso, de vontade, de produção de efeitos- mais ainda, nada mais é que precisamente esse impelir, esse querer, esse exercer efeitos,no pode parecer atuar de outro modo senão em favor da sedução enganosa da linguagem( e dos erros fundamentais da razão que nela estão petrificados), a qual compreende, e compreende de viés, toda produção de efeitos como condicionada por uma coisa que exerce efeitos, por um "sujeito". página 65.
" nós, os fracos, não passamos realmente de fracos: convém que não façamos nada em vista de não sermos bastante fortes". Página 67;
Essa espécie de homeme necessita crer no "sujeito" indiferente, livre para se determinar, como que agindo por instinto de autoconservação, de autofirmação, pelo qual toda mentira costuma ser justificada. O sujeito (ou para dizê-lo de modo mais popular,, a alma) foi talvez até aqui o melhor artigo de fé que o mundo tenha conhecido até hoje porque permitiu á imensa maioria dos mortais, aos fracos e aos oprimidos de todo tipo, essa sublime ilusão que interpreta a própria fraqueza como liberdade, sua maneira particular de ser como mérito. página 67;
A fraqueza deve ser, a golpes de mentira, transformada em mérito, disso não tenho nenhuma dúvida- é exatamente o que você diz; página 68;
São miseráveis, sem dúvida, todos esses cochichadores esses falsários em seu canto, embora se acotovelem uns contra os outros para se esquentar- mas, dizem, sua miséria seria uma escolha e uma distinção dispensada por Deus, aquele que gosta realmente castigar melhor ainda; talvez essa miséria seja uma preparação, um tempo de prova, umma formação, talvez seja algo mais ainda- alguma coisa que será um dia compensada e retribuída com usura em proporções formidáveis em ouro, não.! em felicidade. Chamam isso de "beatitude". página 69;
" A fé nos oferece bem mais e um bem mais vigoroso; a redenção coloca á nossa disposição alegrias bem diferentes; em vez dos atletas, temos o sangue de Cristo...." página 72;
" De igual modo os governadores, perseguidores do nome de deus, derretendo nas chamas mais cruéis que aquelas que eles próprios acenderam para insultar os cristãos!página 74;
" É então que as mensagens dos autores de tragédias serão mais bem entendidas, na própria vez deles, em sua própria infelicidade, é então que serão conhecidos os histriões, nitidamente sugados pelo fogo; página 75.;
roma via no judeu alguma coisa como a própria contranatureza, uma espécie de monstro antípoda; para Roma, o judeu passava a ser " um convicto de ódio contra todo o gênero humano": com razão, se eé certo que a salvação e o futuro da humanidade consiste no domínio incondicional dos valores aristocráticos, dos valores romanos. página 77;
OS romanos eram de fato os fortes e os nobres, como jamais a terra tinha conhecido outros mais fortes e nobres, como jamais se havia sonhado que existissem; cada vestígio de sua dominação, a menor inscrição nos maravilha e nos deixa perplexos;página 78;
Os judeus, pelo contrário, eram por excelência o povo sacerdotal do ressentimento, dotado de uma genialidade ímpar em matéria de moral popular. página 78;
È verdade que o Renascimento viveu um despertar magnificamente inquietante do ideal clássico, do modo de avaliação nobre de todas as coisas: como um ser aparentemente morto que desperta, a própria Roma se agitou sob o enfoque da nova Roma judaizada, edificada sobre as ruínas, que apresentava um aspecto de sinagoga ecumênica, chamada "igreja", mas em breve a judeia tornou a triunfar, graças a esse movimento de ressentimento fundamentalmente plebeu( alemão e inglês, que se chama Reforma, á qual é preciso acrescentar o que foi sua consequência necessária, a restauração d a Igreja- a restauração, portanto, do antigo silêncio sepulcral da Roma clássica. página 79;
Num sentido ainda mais decisivo e profundo que antes, com a Revolução francesa, a judeia cantou vitória novamente sobre o ideal clássico: a última nobreza política, que ainda subsistia na Europa, aquela dos séculos XVII e XVIII franceses, cedeu sob os instintos de ressentimento do populacho - jamais se ouviu na terra um clamor mais amplo de alegria, de entusiasmo mais ensurdecedor! página 79;
TORÇAM ,POIS, POR MIM, PORQUE TENHO ESPERANÇA E FÉ QUE 2014 SERÁ MELHOR PRO MUNDO INTEIRO E QUE NOSSOS PLANOS E SONHOS DARÃO MAIS DO QUE CERTO COM CRISTO EM NOSSOS CORAÇÕES!ESSE MÊS ME DEDICAREI A ESTUDAR O GRANDE FILÓSOFO NIETZSCHE, AGUARDEM GRANDES COISAS AINDA ESTÃO POR VIR!
A falta, o pecado, o erro, enfim, seriam decorrência realmente de uma má ação ou de um conceito que procurou inserir no pensamento humano um sentido do que é bom em si e, em decorrência de algo que, em contraposição é mau? página 07.
O bom e o mau como atos existem em si como consequência da existência de uma consciência boa e de uma consciência má ou seriam simplesmente figuras inventadas pelos espíritos que se consideram superiores para poder escravizar os espíritos inferiores?página 07.
Para conseguir inculcar no homem todos esses princípios fabricados á partir de uma vontade de poder de alguns, surge a moral que distingue não valores de valores ou a inexistência de valores diante daquilo que deve ser realmente considerado e tido como valor. página 08;
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em
Röcken, Alemanha, no dia dia 15 de Outubro de 1844. Órfão de pai aos 5 anos de idade, foi instruído pela mãe nos rígidos princípios da religião cristã.Cursou teologia e filologia clássica na Universidade de Bonn. Lecionou Filologia na Universidade de Basileia na Suíça, de 1868 a 1879,ano que em que deixou a cátedra por doença. Passou á receber, á título de pensão, 3000 francos suíços que lhe permitiam viajar e financiar a publicação de seus livros. empreendeu muitas viagens pela Costa Azul francesa e pela Itália, desfrutando de seu tempo para escrever e conviver com amigos e intelectuais.
Não conseguindo levar a termo uma grande aspiração,a de casar-se com Lou Andreas Salomé, por causa da sífilis contraída em 1866, entregou-se á solidão e ao sofrimento, isolando-se em sua casa, na companhia de sua mãe e de sua meia irmã. Atingindo por crises de loucura em 1889, passou os últimos anos de sua vida recluso, vindo a falecer no dia 25 de agosto de 1900, em W eimar. página 11.
" Qual é definitivamente a origem de nossa ideia do bem e do mal? " De fato, o problema da origem do mal já me perseguia quando não tinha mais que treze anos: na idade em que " Deus e os brinquedos da infância enchem meio a meio o coração ", consagrei a esta questão minhas primeiras brincadeiras literárias, minha primeira redação filosófica .página 20.
Um mínimo de formação histórica e filosófica e certo tato inato da exigência relacionada a questões psicológicas em geral, logo transformaram meu problema neste outro: em que condições o homem inventou essas apreciações de valor de bem e de mal? E que valor tem em si mesmas? página 20.
Vamos formular essa nova exigência: necessitamos de uma crítica dos valores morais e, antes de tudo, torna-se necessário discutir o valor desses valores- e para tanto é necessário conhecer as condições e os ambientes em que nasceram, em favor das quais sew desenvolveram e nas quais se deformaram ( a moral como consequência, como sintoma, como máscara, como hipocrisia, como doença, como equívoco, mas também a moral como causa, como remédio, estimulante, inibição, veneno, um conhecimento que nunca existiu até hoje e como nunca se desejou um igual. (p.26);
De fato, a alegria de espírito ou, para dizê-lo em minha linguagem, a gaia ciência, é uma recompensa: recompensa de um longo esforço corajoso, duro e subterrâneo, reservado realmente a poucos.P.28);
" se há gente que julga este livro incompreensível, se lhe ferir os ouvidos, parece-me que a culpa não é necessariamente minha"(p.29);
Alerta, portanto, diante desses espíritos benevolentes que governam talvez esses historiadores da moral! Mas é infelizmente certo que lhes falta o espírito histórico, que foram abandonados á sua própria ssorte por todos os espíritos benevolentes da história! Pensam , segundo é velha tradição nos filósofos do passado, de uma maneira essencialmente anti-histórico.(p.35);
De início, o termo " puro" designa simplesmente um homem que se lava, que se abstém de certos alimentos que provocam doenças de pele, que não deita com mulheres sujas da plebe e que tem horror ao sangue- nada mais que isso.(p.44);
Os juízos de valor das aristocracias de cavaleiros se baseiam numa vitalidade física poderosa, numa saúde em plena forma, rica, até mesmo transbordante, para a qual contribui por sua conservação e guerra, as aventuras, a caça, a dança, os jogos e em geral tudo o que implica uma atividade forte, livre, alegre.
Os sacerdotes são, e isso é sabido de todos, os inimigos mais malignos- por quê? Porque são os mais desprovidos de poder? `E essa impotência que faz crescer neles um ódio monstruosos, inquietante, até torná-lo supremamente espiritual e supremamente venenoso.página 47;
Os grandes homens de ódio na história Universal foram sempre sacerdotes, e também os homens de ódio mais engenhosos- comparando-se como o espírito de vingança dos sacerdotes, todo o resto do espírito geralmente não merece consideração. A história humana seria uma coisa realmente insípida sem o espírito que lhe insuflaram os homens desprovidos de poderes- relembremos o exemplo mais notável. (p.47);
[...] os judeus, esse povo de sacerdotes, que não souberam por fim tirar satisfação de seus inimigos e conquistadores se não por meio de uma radical inversão de seus valores, isto é, por meio de um ato de vingança supremamente espiritual. (p.48);
.Foram abolidos os "senhores", venceu a moral do povo. Pode-se muito bem considerar simultaneamente essa vitória como um envenenamento de sangue( ela misturou as raças)- não digo o contrário: mas não há o que duvidar, essa intoxicação teve sucesso. (p 51);
A " redenção" da espécie humana ( a saber, sob o prisma dos"senhores" está no melhor caminho possível; tudo se judaíza ou se cristianiza ou se plebeíza a olhos vistos( que importam as palavras!)
A rebelião dos escravos em moral começa com o fato que o próprio ressentimento se torna ele próprio criador e gera valores; o ressentimento desses seres, aos quais a verdadeira reação, aquela da ação, é interdita e que não se contenta senão com uma vingança imaginária. (p.52).
Enquanto toda a moral nobre precede de uma triunfante afirmação de si mesma, a moral de escravos desde o início diz não a um " no exterior", a um " de outro modo" , a um " não ele mesmo"; e é esse não que é seu ato criador. página 52;
O contrário acontece na avaliação do nobre: age e cresce espontaneamente, não procura seu oponenete para dizer sim a si mesmo com maior reconhecimento ainda, com mais alegria- seu conceito negativo de "vil", de "comum", de "mau", não é senão um pálido contraste de surgimento tardio, comparado a seu conceito fundamental positivo, impregnado de ponta aponta de vida e de paixão " nós os nobres, nós os bons, nós os formosos , nós os felizes!
Uma raça de homens do ressentimento desse tipo acabará necessariamente por ser mais inteligente do que qualquer raça por mais nobre que seja e haverá de honrar também essa inteligência além de qualquer medida, isto é, como uma condição de existência de primeira ordem, enquanto que, entre os nobres, essa inteligência apresenta facilmente um sutil gosto pelo luxo e pelo refinamento {...] página 56;
Mas não é o mesmo conceito de "bom": que se pergunte antes quem precisamente é " mau" , no sentido da moral do ressentimento . Para responder com todo o rigor: o "bom" da outra moral é justamente o nobre, o poderoso, o dominador, se não for revestido de outra cor, reinterpretado, revisto pelo olho venenoso do ressentimento. página 58;
Supondo que seja verdade o que somos levados a aceitar hoje como "verdade", ou seja, que o sentido de toda cultura é justamente domesticar o predador "homem" para fazer dela um animal pacato e civilizado um animal doméstico, deveríamos então considerar, sem a menor dúvida!
Como verdadeiros instrumentos de cultura todos esses instintos de reação e de ressentimento, graças aos quais acabamos por romper e subjugar as linhagens nobres com seus ideais, isso não significaria dizer que os depositários daqueles instintos representariam por si mesmo a cultura. página 61.
um homem que justifica o homem, um homem que seja uma vez feliz, complementar e redentor,por amor do qual se esteja no direito de manter a fé no homem !... de fato, as coisas são assim: é na pequenez e na igualdade do homem europeu que reside nosso pior perigo, pois o espetáculo cansa .....página 64.
Uma quantidade de força corresponde exatamente á mesma quantidade de impulso, de vontade, de produção de efeitos- mais ainda, nada mais é que precisamente esse impelir, esse querer, esse exercer efeitos,no pode parecer atuar de outro modo senão em favor da sedução enganosa da linguagem( e dos erros fundamentais da razão que nela estão petrificados), a qual compreende, e compreende de viés, toda produção de efeitos como condicionada por uma coisa que exerce efeitos, por um "sujeito". página 65.
" nós, os fracos, não passamos realmente de fracos: convém que não façamos nada em vista de não sermos bastante fortes". Página 67;
Essa espécie de homeme necessita crer no "sujeito" indiferente, livre para se determinar, como que agindo por instinto de autoconservação, de autofirmação, pelo qual toda mentira costuma ser justificada. O sujeito (ou para dizê-lo de modo mais popular,, a alma) foi talvez até aqui o melhor artigo de fé que o mundo tenha conhecido até hoje porque permitiu á imensa maioria dos mortais, aos fracos e aos oprimidos de todo tipo, essa sublime ilusão que interpreta a própria fraqueza como liberdade, sua maneira particular de ser como mérito. página 67;
A fraqueza deve ser, a golpes de mentira, transformada em mérito, disso não tenho nenhuma dúvida- é exatamente o que você diz; página 68;
São miseráveis, sem dúvida, todos esses cochichadores esses falsários em seu canto, embora se acotovelem uns contra os outros para se esquentar- mas, dizem, sua miséria seria uma escolha e uma distinção dispensada por Deus, aquele que gosta realmente castigar melhor ainda; talvez essa miséria seja uma preparação, um tempo de prova, umma formação, talvez seja algo mais ainda- alguma coisa que será um dia compensada e retribuída com usura em proporções formidáveis em ouro, não.! em felicidade. Chamam isso de "beatitude". página 69;
" A fé nos oferece bem mais e um bem mais vigoroso; a redenção coloca á nossa disposição alegrias bem diferentes; em vez dos atletas, temos o sangue de Cristo...." página 72;
" De igual modo os governadores, perseguidores do nome de deus, derretendo nas chamas mais cruéis que aquelas que eles próprios acenderam para insultar os cristãos!página 74;
" É então que as mensagens dos autores de tragédias serão mais bem entendidas, na própria vez deles, em sua própria infelicidade, é então que serão conhecidos os histriões, nitidamente sugados pelo fogo; página 75.;
roma via no judeu alguma coisa como a própria contranatureza, uma espécie de monstro antípoda; para Roma, o judeu passava a ser " um convicto de ódio contra todo o gênero humano": com razão, se eé certo que a salvação e o futuro da humanidade consiste no domínio incondicional dos valores aristocráticos, dos valores romanos. página 77;
OS romanos eram de fato os fortes e os nobres, como jamais a terra tinha conhecido outros mais fortes e nobres, como jamais se havia sonhado que existissem; cada vestígio de sua dominação, a menor inscrição nos maravilha e nos deixa perplexos;página 78;
Os judeus, pelo contrário, eram por excelência o povo sacerdotal do ressentimento, dotado de uma genialidade ímpar em matéria de moral popular. página 78;
È verdade que o Renascimento viveu um despertar magnificamente inquietante do ideal clássico, do modo de avaliação nobre de todas as coisas: como um ser aparentemente morto que desperta, a própria Roma se agitou sob o enfoque da nova Roma judaizada, edificada sobre as ruínas, que apresentava um aspecto de sinagoga ecumênica, chamada "igreja", mas em breve a judeia tornou a triunfar, graças a esse movimento de ressentimento fundamentalmente plebeu( alemão e inglês, que se chama Reforma, á qual é preciso acrescentar o que foi sua consequência necessária, a restauração d a Igreja- a restauração, portanto, do antigo silêncio sepulcral da Roma clássica. página 79;
Num sentido ainda mais decisivo e profundo que antes, com a Revolução francesa, a judeia cantou vitória novamente sobre o ideal clássico: a última nobreza política, que ainda subsistia na Europa, aquela dos séculos XVII e XVIII franceses, cedeu sob os instintos de ressentimento do populacho - jamais se ouviu na terra um clamor mais amplo de alegria, de entusiasmo mais ensurdecedor! página 79;
TORÇAM ,POIS, POR MIM, PORQUE TENHO ESPERANÇA E FÉ QUE 2014 SERÁ MELHOR PRO MUNDO INTEIRO E QUE NOSSOS PLANOS E SONHOS DARÃO MAIS DO QUE CERTO COM CRISTO EM NOSSOS CORAÇÕES!ESSE MÊS ME DEDICAREI A ESTUDAR O GRANDE FILÓSOFO NIETZSCHE, AGUARDEM GRANDES COISAS AINDA ESTÃO POR VIR!
Reflexão de fim de ano!
Mais um ciclo de vida está prestes a ser finalizado!Estamos próximos do fim do ano de 2013! Como não poderia deixar de ser, este se torna mais um momento de reflexão, de avaliar os erros cometidos, os acertos elogiados, as coisas que deixaram de ser feitas, e de traçar metas para o futuro, e o meu blog não poderia deixar de se manifestar em tal momento tão sublime e especial,e durante este último mês do ano , cheguei a conclusão que o mesmo nada mais é do que um espaço de divulgação cultural , feito não somente para discussões historiográficas, mas inclusive de promover meus pensamentos e impressões de cada livro lido por mim ,portanto,decidi que no próximo ano, qualquer um que me passar pelas mãos será promovido aqui, ,evidentemente ,quem quiser divulgar sua obra, for autor de algum livro , e quiser que eu o leia, que emita opiniões sobre o mesmo, quiser que eu poste aqui suas principais ideias , é só entrar em contato pelo e-mail limabh40@gmail.com, me fornecendo um exemplar gratuito , que eu terei o maior prazer divulgá-lo! Desejo á todos os meus admiradores, neste dia 31/12/2013, ás 15: 47 horas, em clima de contagem regressiva,um ótimo 2014, e que o Senhor Jesus , nos abençoe, e nos dê forças necessárias para enfrentar mais um ano, digo porque este este ano pra mim foi muito difícil, em termos de buscar boas fontes literárias, para manter esse blog, devido á muitas dificuldades financeiras, devido, além disso, á muitos obstáculos e barreiras pessoais que tive que enfrentar,e até pela depressão que tomou conta de mim! Mas nada irá atrapalhar este meu sonho , em continuar divulgando o conhecimento e a cultura no país onde moro, apesar dos poucos incentivos que os governos nos oferecem!
sexta-feira, 28 de junho de 2013
DESFECHO DA OBRA: "O NOME DA MORTE"- A história real de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas.Obra publicada em 2006 pela editora Planeta do Brasil( Cavalcanti, Klester).
Maria Lúcia Petit da Silva era uma jovem de 22 anos, 1,62 metro de altura, cerca de 45 quilos e usava os cabelos lisos e castanhos na altura dos ombros. Tinha nariz afilado, olhos escuros e era um pouco estrábica. Formada em Magistério, trabalhava como professora primária, na Escola Aviador Frederico Gustavo dos Santos, em São Paulo. No final de 1969, entrou para o PC do B. À família e aos amigos dizia que seu maior sonho era ajudar na educação das crianças dos grotões do Brasil.Apresentou-se ao PC do B como voluntária, e logo foi escalada para trabalhar no interior de Goiás. Estava feliz. Era exatamente o que ela queria.
Em janeiro de 1970, foi para o sul do Pará, de onde seguiria para ajudar no trabalho social da guerrilha, na região do Araguaia. (pg 129).
Passava a maior parte do tempo ensinando as crianças a ler e a escrever e conversando com os jovens e adultos, a quem falava do motivo da guerrilha. Sempre dizia que a luta era pela igualdade social do Brasil. Costumava falar que era inaceitável viver num país em que poucos tinham tanto e tantos tinham tão pouco. Invariavelmente, suas aulas e discursos eram carregados de palavras de carinho. Estava sempre bem- humorada e era muito apegada ás crianças da região. Assim, conquistou a amizade e o respeito de todos dos povoados do Araguaia nos quais trabalhava. Não raro, era convidada para ser madrinha das crianças, que haviam acabado de nascer.
Poucos dias antes de morrer,Maria Lúcia tinha recebido um desses convites.
Havia sido convidada pelo agricultor conhecido como João Cocoió para batizar seu filho de 2 meses de vida. Ela aceitou o convite, sem saber que esse mesmo homem iria entregá-la ao Exército. (pg 129);
Era início de junho de 1972. Os militares faziam todo tipo de pressão para que os habitantes do Araguaia os ajudassem a capturar os comunistas. A violência era um dos mecanismos mais utilizados pelo Exército para forçar os moradores a denunciar a presença de guerrilheiros na região. Os soldados matavam animais das famílias-cavalos, bois, galinhas-espancavam a quem bem entendiam e chegavam até a queimar lavouras e casas de agricultores. João Cocoiò, um homem de cerca de 40 anos, casado e pai de Três filhos- incluindo o recém - nascido, de quem Maria Lúcia seria madrinha- já tinha recebido esse tipo de alerta do Exército, quando teve sua plantação de mandioca incendiada por meia dúzia de soldados. Tinha medo de colocar a sua família em perigo e para que os militares o deixassem em paz, resolveu denunciar a presença do grupo do qual Maria Lúcia fazia parte na região conhecida como Pau Preto , no sul do Pará.
Como não podiam aparecer nas cidades, sob o risco de serem reconhecidos e, consequentemente, presos, os guerrilheiros, costumavam pedir aos moradores da região que comprassem mantimentos , fumo e munição para o movimento rebelde. Coiocó tinha sido encarregado de ir até Xambioá, de onde deveria trazer cigarro, feijão, arroz, café e munição para os comunistas. Ao chegar á cidade, antes mesmo de fazer as compras, o agricultor foi até a delegacia e relatou tudo á Carlos Marra.
Cazuza era codinome do pernambucano Miguel Pereira, 29 anos, que morreu no Araguaia , em Setembro de 1972. E Mundico era o baiano Rosalindo Souza, 33 anos, morto um ano depois, ainda durante a guerrilha. Maria Lúcia, Cazuza e Mundico pertenciam ao destacamento do movimento cuja base ficava na região de Pau Preto, a cerca de 3 quilômetros da casa de João Cocoió. (pg 131);
Os especialistas da Unicamp, comandados pelo legista Fortunato Badan Palhares, então diretor do Departamento de Medicina Legal da Universidade, encontraram resquícios das roupas, calçados e acessórios que Maria lúcia Petit usava quando foi presa. O cartucho de bala calibre 20 que ela levava no bolso traseiro da calça ainda estava intacto.
Uma das pessoas que teriam acesso a essas informações era Laura Petit. Três anos mais velha que Maria Lúcia, a caçula da casa, Laura tinha se encarregado da missão de descobrir o que acontecera á sua irmã, a quem os militares identificavam em seus relatórios oficiais apenas como "desaparecida", como o Exército fazia com os rebeldes mortos durante a guerrilha. Ao saber que a ossada da irmã havia sido retirada da terra embrulhada numa lona de náilon como se fosse um animal , Laura não conseguia resistir ao pensamento de que o mesmo pudesse ter ocorrido aos seus outros dois irmãos: Jaime e Lúcio. Ambos também atuaram na guerrilha do Araguaia. Ambos também morreram nas selvas da região, com confrontos com o Exército. Jaime morreu em dezembro de 1973, aos 28 anos, e Lúcio, em Abril de 1974, aos 30. Até hoje, Laura Petit só conseguiu recuperar os restos mortais de Maria Lúcia- não se sabe onde Jaime e Lúcio foram enterrados.
A exumação era apenas o primeiro passo para a identificação do corpo de Maria Lúcia Petit da Silva. Em São Paulo, Laura Petit estava decidida a dedicar todo o tempo e esforço necessários para que se descobrisse se os restos mortais que os peritos da Unicamp haviam retirado do cemitério de Xambioá realmente pertenciam á sua irmã.
Seria um processo muito mais lento e doloroso do que Laura poderia imaginar. Durante cinco anos , ela dividiu-se entre o trabalho de professora e ações que julgava imprescindíveis para saber se aquela ossada era de Maria Lúcia. Perdeu as contas de quantas vezes foi á Unicamp, na tentativa de conversar com o legista Badan Palhares para pressioná-lo a acelerar a resolução do caso.
Os meses e anos passavam, e a ossada de Maria Lúcia Petit permanecia esquecida, acondicionada em sacos plásticos ,numa estante de uma sala fria da Unicamp.Uma informação fundamental para a identificação dos restos mortais da guerrilheira foi conseguida graças ao empenho de Laura Petit. No final de abril de 1991, ela entrou em contato com o dentista Jorge Tanaka , que tinha tratado de Maria Lúcia pouco antes de a jovem viajar para o Araguaia. Autorizado pelo departamento de Medicina Legal da Unicamp a analisar a arcada dentária da ossada recuperada em Xambioá, o médico atestou tratar-se de Maria Lúcia Petit.
Mas a análise do dentista ainda precisava ser confirmada por Badan Palhares e sua equipe, o que só aconteceria cinco anos mais tarde.
Na manhã de 15 de Maio de 1996- quase vinte e quatro anos após a morte de Maria Lúcia-, os especialistas da Unicamp anunciavam , numa sala da Universidade, a conclusão das análises realizadas nos restos mortais da guerrilheira , dispostos numa mesa coberta com uma toalha azul.No lado esquerdo da sala, um painel de madeira exibia fotos de Maria Lúcia, antes e depois de ser morta. Na plateia de cerca de trinta pessoas, havia jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e amigos e familiares de Maria Lúcia. Laura Petit estava sentada na primeira fila, de mãos dadas á mãe, dona Julieta, que jamais se conformaria com o fato de ter perdido três filhos na guerrilha. A pouco mais de 2 metros de distância delas, o legista Badan Palhares fazia a apresentação da ossada.
Com o crânio da jovem na mão, Badan Palhares apontou, com uma espécie de canudo branco, o local em que o tiro fatal atingiu a guerrilheira. O laudo de trinta páginas- quatorze delas só de fotos- apresentado pelo legista descrevia:
"PUDEMOS CONSTATAR QUE HAVIA CARACTERÍSTICAS DE SER OSSO DE PESSOA DO SEXO FEMININO"
" A CABEÇA DO FÊMUR ERA BASTANTE DELICADA, ASSIM COMO O ÂNGULO NASAL E O REBORDO ORBITÁRIO FINO, ELEMENTOS QUE NOS INDUZEM A PENSAR EM SER ESQUELETO DE MULHER".
" AS SALIÊNCIAS DOS SEIOS SÃO BEM VISÍVEIS".
Sobre as causas da morte de Maria Lúcia Petit, o documento apontava que a jovem comunista tinha sido assassinada com dois tiros: um na coxa direita, disparado por um fuzil 7,62, e outro na cabeça " no osso parietal esquerdo, típico de passagem de projétil de arma de fogo, que teve direção de baixo para cima e de trás para a frente"- o tiro disparado por Júlio Santana. Com a confirmação científica, estava concluída a identificação do primeiro corpo de um comunista morto na guerrilha do Araguaia. Até hoje, Maria Lúcia Petit é a única pessoa do movimento rebelde que morreu em confrontos com as forças militares a ter o corpo exumado e identificado - estima-se que cerca de sessenta comunistas tenham sido mortos na guerrilha.
O Exército jamais divulgou os nomes dos homens que deram os tiros que mataram a jovem comunista, naquela manhã de 16 de junho de 1972. Júlio Santana nunca soube o nome da moça que matou em seu segundo homicídio.
(pg 141 á 143)
Exatamente uma semana após matar Lúcia Pettit, Júlio Santana completava 18 anos. Naquela sexta-feira, 23 de Junho de 1972, ele acordou antes do amanhecer. Desde o dia em que assassinara a jovem guerrilheira, não conseguia dormir direito.
(...) situação da guerrilha do Araguaia. Os militares continuavam capturando e matando comunistas e moradores que colaboravam com o movimento. Um dos episódios mais assustadores dos últimos dias- contou o motorista- tinha sido a decapitação de um jovem guerrilheiro. Os soldados chegaram a passar pelas ruas de Xambioá carregando nas mãos a cabeça do homem. (pg 155);
Desde meados de 1980, o tio Cícero Santana comentava com ele sobre a enorme quantidade de pessoas, de várias partes do Brasil que iam a Serra Pelada na esperança de encontrar ouro e enriquecer. Á época, a recente descoberta do minério havia transformado a região numa espécie de eldorado, com cerca de 20 mil homens escavando a Serra dos Carajás á procura de pedras douradas. O êxodo foi tamanho que, pouco mais de um ano depois- em setembro de 1981-, já eram quase 80 mil garimpeiros vivendo e trabalhando em Serra Pelada. Poucas cidades do Pará tinham tanta gente.
Júlio ficou impressionado em saber que aquele minúsculo pedaço de ouro podia valer tanto- na época, o salário mínimo era de 8.460 cruzeiros e 1 grama de ouro era vendido em Serra Pelada por 900 cruzeiros(pg 175);
Em junho de 1972, Júlio matou , durante a guerrilha do Araguaia, a comunista Maria Lúcia Petit da Silva, á época com 22 anos. A jovem , que era professora, trabalhava na educação das crianças da região. No dia do crime, um dos militares que participou da emboscada fez uma foto da guerrilheira morta para identificação. Os restos mortais de Maria Lúcia Petit só seriam identificados em Maio de 1996- quase vinte e quatro anos após o assassinato - , por uma equipe de especialistas da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp), em São Paulo.
Aos 52 anos, Júlio se dizia exausto daquela vida desgraçada, de matar um aqui e outro acolá.Além disso, não tinha mais agilidade, a força e a visão aguçada do passado. (pg 213);
" Era Novembro de 1983, e Júlio havia sido contratado por um agiota de Teresina, no Piauí, para matar um bancário que lhe devia dinheiro . Pelo crime, receberia 550 mil cruzeiros, pouco menos de dez sala´rios mínimos da época, que era de 57. 120 cruzeiros. pg 218.
terça-feira, 25 de junho de 2013
Resenha da obra de Klester Cavalcanti
" Aviso aos navegantes: O homem que matou centenas de pessoas é uma dessas figuras inacreditáveis que fazem do Brasil um colorido catálogo de espantos.
Klester Cavalcanti atuou dois anos como correspondente da revista veja na Amazônia" (pg 13);
" Em sua obra , faz um trabalho de reconstituição de cenas, diálogos, paisagens, gestos, sensações, num dedicado exercício de arqueologia jornalística "(pg 13);
Espantos de todos os calibres povoam as páginas deste livro. Quer saber qual pode ser o preço de uma vida? Algo como 30 quilos de arroz, 20 de feijão, 10 de café, 10 de açúcar, 5 de queijo, 10 latas de óleo, 12 garrafas de cachaça. ( pg. 13);
Quer saber quais são os mandamentos d matador?
O primeiro é: não matar uma mulher grávida.
O segundo: não roubar bens da vítima.
O terceiro: não matar outros pistoleiros.
O quarto: não deixar o pagamento pra depois.
O quinto: não matar a vítima enquanto ela estiver dormindo. (pg 13)
" Foram necessários sete anos de conversas para que Júlio Santana me autorizasse a colocar o seu verdadeiro nome neste livro. Na primeira vez em que nos falamos, em Março de 1999, ele concordou em me contar sua história , mas não queria revelar sua identidade, nem permitir que eu- ou qualquer pessoa o fotografasse(pg 15 );
O homem com quem eu passava a conversar- a partir daquele dia- a uma média de uma entrevista por mês- é um assassino profissional que, em 35 anos de trabalho, já matou quase 500 pessoas. Mais precisamente, 492 mortes, das quais 487 foram devidamente registradas num caderno, com data, local do crime, quanto ele recebeu pelo serviço e, o mais importante, os nomes dos mandantes e da vítimas( pg 15);
Meu primeiro contato com esse intrigante cidadão brasileiro ocorreu durante a produção de uma reportagem sobre trabalho escravo. Á época, Março de 1999, eu era correspondente da revista Veja na Amazônia função que desempenhei durante pouco mais de dois anos.
Para a referida reportagem, eu e o fotógrafo Junduari Simões,viajamos a várias cidades do Pará,á procura de pessoas que já tinham sido escravizadas e de fazendeiros que mantinham escravos em suas propriedades. (pg 15);
Nos últimos sete anos, mantive minhas conversas com o homem que já matou quase 500 pessoas e que nunca teve outra atividade profissional na vida.
A cada telefonema, nossa relação ficava mais estreita.Sentia que ele passava a confiar mais em mim e a contar suas histórias de forma cada vez mais sincera e emocionada. Vez ou outra, eu voltava a falar sobre minha vontade de relatar sua vida(....);
(pg 17);
Em janeiro de 2006, durante uma conversa, Júlio me disse que tinha decidido largar a vida de matador para viver com a mulher e os dois filhos em outro estado, longe do Maranhão.(pg 17). Morando em outro estado, e levando uma vida totalmente diferente de que tinha até então, ele jamais seria encontrado pela polícia(pg 17);
Com três blocos de anotações preenchidos exclusivamente com as minhas conversas com Júlio, passei a outra fase do trabalho: procurar outras fontes, como documentos e pessoas, que confirmassem- ou não- os relatos do protagonista deste livro. Nessa busca, entrevistei quase quarenta pessoas- de policiais a garimpeiros que trabalharam em Serra Pelada,passando por parentes de pessoas assassinadas por Júlio- e tive acesso a inquéritos policiais e a processos judiciais.
Um dos depoimentos mais surpreendentes foi o do ex-deputado e ex- presidente do Partido dos trabalhadores, José Genoíno Neto. Num de seus relatos , Júlio Santana havia dito que tinha participado da captura de José Genoíno durante a Guerrilha do Araguaia, em Abril de 1972.
Para atestar a veracidade dessa história, marquei uma entrevista com Genoíno, na sua casa, em São Paulo. Durante a conversa, falei á Genoíno que uma fonte minha- não revelei quem era- havia dito que participara da sua captura no Araguaia. Contei a História de acordo com tudo o que Júlio me dissera, incluindo detalhes mínimos, como, por exemplo, a cor do cachorro que estava na cabana na qual prenderam o então guerrilheiro. Genoíno lembra até de que, no grupo que o capturou, havia um rapaz bem mais jovem do que os outros integrantes. Era Júlio Santana , que, á época, tinha 17 anos. (pg 18);
A história que você lerá nas páginas a seguir, retrata a vida de um homem que nasceu numa vila no meio da selva Amazônica e que tinha tudo para se tornar um pescador pacato, esquecido nos rincões da floresta, como tantos que existem na Amazônia. Uma gente abandonada pelas autoridades e pelo governo, em cujos povoados até hoje não há energia elétrica, água encanada, esgoto, escolas, postos de saúde, onde a segurança é inexistente e a polícia não põe os pés.(pg 19).
Desse mundo fabuloso e inóspito , saiu Júlio Santana, um brasileiro que passou a vida matando brasileiros. E engana-se quem pensa que os crimes aconteciam apenas nos cafundós da Amazônia. em seus 35 anos de profissão , Júlio matou pessoas em vários estados, incluindo São Paulo, Paraná, Bahia e Goiás.Mas sempre se orgulhou em declarar que jamais assassinou ninguém por ódio ou vontade própria. " Só mato quando me pagam pra matar", ele me disse inúmeras vezes E apesar das quase 500 mortes que carrega nos ombros, Júlio Santana só foi preso uma única vez, em Maio de 1987.(pg 19);
" Para um garoto que acabara de completar 17 anos e que nunca tinha dado um tiro numa pessoa, no entanto, a tarefa não parecia tão simples(pg 21);
Com 1,76 metros de altura e 65 quilos, Júlio era magro , tinha o rosto ainda imberbe, nariz largo , lábios frios e cabelos crespos, escuros. A pele morena realçava os olhos castanho-claros. Naquela tarde de 7 de agosto de 1971, ele tentava fazer o que seu tio, o policial militar Cícero Santana, lhe ordenara na noite anterior(...) (pg 21);
" Á época com 31 anos, Cícero Santana havia crescido naquela mesma região.. Ao completar 15 anos, foi tentar a vida em Imperatriz, também no Maranhão. certo dia, apareceu em Porto franco vestido de soldado e dizendo que tinha entrado para a Polícia Militar. era o orgulho da Família. Cícero adorava caçar, pescar, andar pela mata.. Foi com ele que Júlio aprendeu a atirar. Aos 11 anos, o garoto já conseguia acertar um animal "do outro lado do rio", a uma distância de cerca de 100 metros. (pg 23).
" Primeiramente, Cícero, fez uma revelação que deixou Júlio surpreso e assustado. Para aumentar seus ganhos, conciliava o trabalho na Polícia Militar com uma atividade pouco usual.. Era matador de aluguel.Tinha entrado para o mundo da pistolagem , havia quase dois anos.Júlio quis não acreditar no que ouvia. . o tio que ele tanto amava era um assassino. Um homeme que matava pessoas por dinheiro. (....) (pg 29);
Ele contou a Júlio que , certa vez, em Outubro de 1969, durante uma operação da PM o batalhão do qual fazia parte prendeu três homens suspeitos de serem os executores de quatro trabalhadores rurais nas redondezas do município de São francisco do Brejão, no oeste do Maranhão.
"" Os mandantes dos assassinos pagavam cerca de mil cruzeiros ao pistoleiro- mais de quatro vezes o valor do salário mínimo da época, que era de 225 cruzeiros(pg 29);
" Não parava de pensar em como seria matar uma pessoa. Assim tinha aprendido com os pais , ambos devotos, de São Jorge e que todo domingo iam á missa na igrejinha de madeira da comunidade. Quem desobedece á Deus é castigado e vai para o inferno . E Júlio não queria nem uma coisa ou outra. (pg 37);
" O único par de sapatos que tinha- um tênis Conga, azul-marinho, que ganhara ao completar 16 anos- ainda estava praticamente novo. Só calçava o tênis para ir á missa , aos domingos."(pg 67);
O rapaz passou o resto da tarde acompanhando Marra pela cidade. Soube que toda aquela tropa de militares que infestavam Xambioá, pertencia ás três forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Tudo para combater os comunistas. Conheceu as bases militares improvisadas na cidade.
O campo de futebol fora transformado em pista de pouso e tinha uma grande cabana, capaz de abrigar até 30 homens e que funcionava como ambulatório e dormitório para recrutas.
" Ainda não havia se acostumado com a intensa movimentação de Jipes e caminhões militares. Diariamente, fazia uma visita de 10 ou 15 minutos ao delegado Marra, na delegacia, para saber se já tinha sido definido o dia da próxima incursão do grupo ás selvas do Araguaia.(pg 73);
No percurso até a região do rio gameleira, o grupo conversava sobre mulheres , futebol e comunistas. (pg 77);
Nos cinco dias que se seguiram, a rotina do grupo se manteve inalterada. Dias inteiros caminhando nas matas fechadas do Araguaia, debaixo de um calor insuportável sob ataques constantes de insetos.Já tinham conversado com diversos moradores da região- a maioria lavradores- e até subornado alguns com remédios e roupas. Muitos prometeram ficar de olho nos comunistas para ajudar em operações futuras(pg 79);
(...) O delegado lembrou que, caso encontrassem algum guerrilheiro na mata, não deveriam, em hipótese alguma, atirar para matar. O objetivo era capturar os comunistas para interrogatório. Só assim saberiam onde ficavam as bases de apoio do movimento e o Exército poderia , então , acabar de vez com a guerrilha. (pg 81);
( ...) disse Carlos Marra- Quero que vocês prestem bastante atenção no que eu vou falar agora.
Como já está provado que Julão tem a melhor pontaria do grupo, se a gente encontrar algum comunista e tiver de atirar, quem dará o primeiro disparo será o garoto(pg 83);
Para o caso de precisarem dormir na selva- o que nenhum deles queria- levavam as redes e uma grande panela de ferro, cheia de arroz, farofa de ovo, e pedaços de carne seca assada.. Na mochila de Tonho, havia um pouco de café, um punhado de sal grosso, meia dúzia de limões e tr~es latas de sardinha(....)Pg 85;
Por volta das 2 horas da tarde, encontraram pegadas frescas, nas matas no entorno do Rio Gameleira. Pelo tamanho das marcas e espaçamento entre uma pegada e outra, Júlio deduziu que tinham sido deixadas por um homem de cerca de 1, 80 metro de altura. (pg 85)
Depois de matar a sede, Júlio retomou a trilha, correndo ainda mais apressadamente do que quando viera. tinha receio de que o comunista chegasse ao local onde seus amigos estavam e os pegasse de surpresa. Ou de que o grupo capturasse o guerrilheiro sem ele estar por perto(pg 89);
-Homem é que nem bicho (...) Só corre se sentir que está sendo seguido ou que está em perigo (....)pg 89;
Como esse comunista não sabe que a gente está atrás dele, ele deve estar todo calminho. (pg 89);
Para Carlos Marra, a arma era um forte indício do envolvimento de genoino no movimento rebelde. (pg 95);
José Genoíno continuava deitado. Parecia desacordado. Mas estava apenas descansando, depois da sova que o deixara com hematomas nas costas, pernas e barriga(pg 97);
Duas coisas perturbavam Carlos Marra: onde estaria o helicóptero que ele havia pedido para levá-los de volta a Xambioá, e como poderia arrancar do guerrilheiro as informações que queria? Em relação ao primeiro problema, não poderia fazer nada anão ser esperar. No segundo caso, retomar as sessões de tortura parecia-lhe a melhor opção (...) quando o delegado ordenou aos seus homens que voltassem a espancar o prisioneiro(pg 97);
Genoíno quis não acreditar que começaria tudo de novo. Júlio virou as costas, para não ver a surra. Apenas ouvia os gemidos de dor. Não demorou até Marra ter uma ideia que Júlio achou ainda mais cruel do que já tinha visto até aquele momento. Seguindo ordens do delegado, Ricardo pegou duas latas de sardinha vazias e colocou-as no chão, com a parte que tinha sido aberta á faca para cima. Tonho , Emanuel e Forel forçaram o jovem comunista a ficar de pé sobre as latas. Genoíno sentia as bordas pontiagudas das latas rasgarem a sola dos seus pés. Trincava os dentes e apertava os olhos de dor. Forel segurava o guerrilheiro pelos cabelos (pg 97);
Na capital federal, José genoino Neto teve sua identidade comprovada. Era, de fato, um comunista filiado ao PC do B e que, inclusive, já havia sido preso, em outubro de 1968, na cidade paulista de Ibiúna, por sua atuação política. . Logo concluíram que o rapaz era um dos líderes da guerrilha do Araguaia. Um mês depois, foi mandado de volta a Xambioá, onde ficou preso na base do exército, improvisada no local onde ficava o campo de futebol da cidade. Após duas semanas de mais torturas- principalmente surras e choques elétricos- - e interrogatórios, o comunista foi enviado de volta á Brasília.
Permaneceu aprisionado e, em janeiro de 1973, foi despachado parauma prisão militar em São Paulo.Só teria sua liberdade de volta no dia 18 de Abril de 1977, exatamente cinco anos após o dia em que foi atingido pelo tiro disparado por Júlio Santana, nas matas do Araguaia.
Fora da prisão , José Genoíno retomou a vida como professor de História. Cinco anos mais tarde, foi eleito deputado federal pelo partido dos Trabalhadores, em são Paulo, com 58 mil votos. Em 1998, seria novamente eleito, para o mesmo cargo, dessa vez com 300 mil votos, o que fez do ex- guerrilheiro o recordista nacional de votos na câmara daquele ano. Somente nessa época, ao ver uma reportagem na TV sobre o êxito do petista, na qual aparecia a foto de Genoíno capturado no Araguaia, Júlio Santana ficou sabendo que o homem em quem dera um tiro, em Abril de 1972, havia se tornado um influente político brasileiro (pg 107);
Júlio não conseguiu dormir. A cama da pensão, na qual mal cabia seu corpo de 1,76 metro de altura, parecia ainda mais estreita e desconfortável. A cena que ele vira na tarde daquele dia não saía da sua cabeça. Pouco depois do almoço, Soldados do Exército e pára-quedistas da Força Aérea Brasileira (FAB), penduraram de cabeça para baixo, o corpo de um jovem magro, de cabelos escuros e roupas rasgadas, numa árvore próxima á base militar que havia sido montada no campo de futebol de Xambioá.A cabeça do cadáver estava suspensa a pouco menos de um metro do chão. Um grupo de dez ou doze militares escarneciam e praguejavam contra o defunto, ao mesmo tempo em que lhe chutavam o rosto e a nuca. O corpo balançava como se de um saco se tratasse. Os pontapés já tinham aberto cortes no rosto do morto. O olho esquerdo , de tão inchado , parecia uma bola vermelha. As pessoas passavam pela rua e olhavam , assustadas, para a cena.
Como Júlio saberia mais tarde-por meio do delegado Carlos Marra- o corpo era o do cearense Bergson farias, 24 anos . Militante do PC do B, Bergson havia sido capturado e morto na manhã daquele mesmo dia- segunda- feira , 8 de Maio de 1972 - por soldados da FAB , nas matas do Araguaia. Era o corpo massacrado do jovem comunista, que Júlio se esforçava para esquecer, na tentativa de ter uma noite de sono tranquilo(pg 110)
Xambioá era uma confusão só. Por causa dos militares que não paravam de chegar- estima-se que, durante a guerrilha do Araguaia , cerca de 4 mil militares atuavam na região-, faltava de tudo. (pg 11). Tudo o que havia de melhor.
Já fazia pouco mais de duas semanas que Júlio retornara da última operação na selva, durante a qual Genoíno havia sido capturado.Ele continuava dormindo na pensão. Xambioá era confusão só. Por causa dos militares que não paravam de chegar- estima-se que durante a guerrilha do Araguaia, cerca de 4 mil militares atuaram na região- faltava de tudo
comida, bebida, cigarro, produtos de limpeza.Tudo o que havia de melhor nos pequenos mercado da cidade, ficava com os homens do Exército, da Marinha e da Fab. Aos poucos, mais de 3 mil moradores, restava ficar com o que sobrava- hoje, Xambioá tem 13 mil habitantes(pg 110);
Na cidade, Júlio era constantemente escalado para trabalhar para o Exército. Entre as tarefas que recebia, a que mais o incomodava era derrubar árvores para ampliar a área de acampamento dos militares e para abrir uma pista de pouso para os aviões da FAB . (pg 110);
(....) onde o delegado Carlos Marra lhe passa ria as tarefas do dia, o que, nas últimas três semanas, significava apresentar-se á base militar para ajudar no que fosse preciso. Naquela manhã, Carlos Marra o avisou de que, em dois ou três dias, eles sairiam para mais uma operação de caça aos guerrilheiros nas matas do Araguaia. (pg 117);
No dia 10 de maio, Júlio, Carlos Marra, Emanuel e Forel deixaram Xambioá para mais uma expedição na selva. Passaram seis dias percorrendo a região á procura de comunistas e intimidando moradores a colaborar com o trabalho do Exército. Não capturaram nenhum integrante do movimento revolucionário , mas o delegado se dizia satisfeito com os contatos que fizera com os habitantes da região. Em todas as casas que encontraram no caminho, Marra parava para conversar com os moradores. Distribuía roupas, ferramentas , remédios e fazia ameaças, dizendo que quem não ajudasse os militares a pegar os guerrilheiros também seria preso e torturado(pg 117);
Dois dias depois do retorno á á cidade. Júlio estava na delegacia, aguardando as ordens de Carlos Marra,, quando quatro militares chegaram trazendo um prisioneiro, com as mãos amarradas para trás.
era tarde da quinta-feira, 18 de Maio e o preso era o barqueiro Lourival Moura, um homem de pele morena e cabelo crespo, também escuro, de uns 40 anos e cerca de 1,70 metro de altura. Um soldado explicou ao delegado que o prisioneiro estava colaborando como trabalho dos guerrilheiros. (pg 118);
Em poucos minutos, começou a ouvir gritos, que, com o tempo ficavam cada vez mais assustadores. (pg 119;
Júlio esperou os militares desaparecerem de sua vista e entrou para ver como estava o prisioneiro. Encontrou Lourival deitado no chão da cela, apenas de cueca, com cortes nas pernas e hematomas no rosto. (pg 119);
A notícia da prisão do barqueiro logo se espalhou por Xambioá. Lourival Moura morava e trabalhava na região, era conhecido como um homem calmo. No dia seguinte ao da sua prisão, quatro rapazes que trabalhavam com ele foram á delegacia. (pg 120);
No sábado , 20 de Maio, o rapaz acordou ansioso para ver como estava o preso.Não sabia porque, mas acreditava que Lourival dizia verdade quando afirmava não ter nada a ver com a guerrilha. Estava errado, como saberia mais tarde, o barqueiro colaborava, sim, com o trabalho dos comunistas. Júlio chegou á delegacia por volta das 7h30 da manhã. dois soldados conversavam , á espera de Carlos Marra, que prometera chegar ás 8h. Á Júlio, eles disseram que o prisioneiro tinha passado á noite bem . O rapaz foi até a cela, e viu Lourival encolhido num canto, coberto com a rede que o filho deixara. Aparentemente, não tinha sido torturado novamente.(pg 121);
A imagem era assustadora. O corpo de Lourival estava suspenso, a meio metro do chão,
amarrado pelo pescoço a uma viga de madeira do teto e vestido apenas com a cueca.
Os olhos, esbugalhados, pareciam pintados de vermelho.Do lado esquerdo do rosto, o barqueiro tinha um inchaço roxo, do tamanho de uma laranja. A barriga apresentava marcas avermelhadas e longas, que Júlio adivinhou ter sido feitas por pauladas com o cabo da vassoura que viu no canto da cela.Franziu os olhos e apertou a boca com agonia, ao notar diversos cortes nas pernas de Lourival . Alguns deles ainda sangravam. As mãos do morto estavam amarradas para trás. (pg 125);
Maria Lúcia Petit da Silva era uma jovem de 22 anos, 1,62 metro de altura, cerca de 45 quilos e usava os cabelos lisos e castanhos, na altura dos ombros. Tinha nariz afilado, olhos escuros e era um pouco estrábica. Formada em Magistério, trabalhava como professora primária, na Escola Aviador Frederico Gustavo dos Santos, em São Paulo. No final de 1969, entrou para o PC do B. A família e aos amigos dizia que seu maior sonho era ajudar na Educação das crianças dos grotões do Brasil Apresentou-se ao PC do B como voluntária, e logo foi escalada para trabalhar no interior de Goiás.
Estava feliz. Era exatamente o que ela queria.
Esse pequeno trecho é só uma "degustação" do que realmente a obra : "O NOME DA MORTE: A História real de Júlio Santana, O Homem que já matou 492 pessoas , da editora Planeta, e do Autor Klester Cavalcanti é capaz de nos oferecer,muito mais temos pra comentar e explorar desta narrativa !
domingo, 23 de junho de 2013
A volta triunfante de um pesquisador por excelência:
Fiéis leitores de meu blog: _ de vez em quando costumo dar uma"sumidinha",( é proposital mesmo!), mas estejam cientes que quando dou um "chá de sumiço", certamente é por que estou reciclando minhas fontes, elaborando novos textos,buscando novas informações para todos vocês!E é nesse novo contexto histórico, os das manifestações populares, das reivindicações em geral , das passeatas, que tem ocorrido ultimamente , ou seja , deste período em que nossa excelentíssima presidente veio a ser vaiada publicamente , e o dos escândalos envolvidos em assuntos como Copa das Confederações e Copa do mundo, gastos públicos, inflação, corrupção vindos á tona,e expostos á flor da pele , a eclodir mundialmente , é que resolvi aparecer,porém trago boas novidades, como , por exemplo , os comentários que irei realizar em torno da seguinte obra por mim lida e relida com muito prazer e dedicação intitulada:
Cavalcanti, Klester.
O nome da morte: a história real de Júlio Santana / Klester Cavalcanti - São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2006.
Cavalcanti, Klester.
O nome da morte: a história real de Júlio Santana / Klester Cavalcanti - São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2006.
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