sábado, 18 de fevereiro de 2012
Homenagem Legal aos nossos Imigrantes Japoneses
Em respeito ás comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, ocorrido no ano de 2008, venho publicar alguns comentários acerca da obra literária de Fernando Morais," Corações Sujos", que retrata a trajetória dentro de nosso país de uma organização secreta japonesa, cujo nome era Shindo Renmei , ou liga do Caminho dos Súditos, que fez uma "limpeza ideológica" dentro desta colônia.Conforme comentários inseridos na contracapa desta obra publicada no ano de 2000 pela editora Companhia das Letras,de janeiro de 1946 á fevereiro de 1947, os matadores da Shindo Renmei, percorreram o Estado de São Paulo, realizando atentados que levaram á morte 23 imigrantes e deixaram cerca de 150 feridos, exclusivamente por causa da subversidade atribuída a eles, de acordo com os interesses políticos desta época.Ainda de acordo com dados fornecidos pela obra, em um ano, mais de 30 mil suspeitos dos crimes foram presos pelo Dops(órgão repressor do governo) e 381 indivíduos receberam condenações que variavam de um a trinta anos de prisão e além disso, foi decretada a deportação para o Japão de oitenta dirigentes e matadores da Shindo Renmei, sepultando esta seita nacionalista que veio a aterrorizar a colônia japonesa em território brasileiro.
O contexto histórico da época concentrou-se na rendição do Japão ás forças aliadas na segunda guerra mundial, país este comandado na época pelo imperador Hiroíto, num momento de grande tensão política internacional para o Japão, porque em 2600 anos de guerras ininterruptas, o temido Exército Imperial Japonês jamais havia sofrido uma única derrota e havia sido aniquilado pelos aliados gerando descontamento geral e decepção na população nipônica da época.
Somente na cidade de Tupã, interior de São Paulo, segundo F. Morais, havia 13 mil japoneses, cidade esta que contou com a presença de 45 mil habitantes. Para o imaginário paulista, a Shindo Renmei, representava além de uma ameaça local e internacional, uma sociedade secreta japonesa, militarista e seguidora fanática do imperador Hiroíto com militantes espalhados por toda a região do interior paulistano,uma seita que sustentava que o Japão havia vencido a Segunda Guerra Mundial(p.14)
Segundo o autor:
As rígidas restrições impostas nos anos de guerra aos japoneses residentes no Brasil, no entanto,
tinham sido apenas um capítulo a mais no
calvário de provações vivido por eles desde o dia 18 de junho de 1908, , quando aportou em Santos o navio Kasato Maru, trazendo do Japão as primeiras 165 famílias
de agricultores num total de 786 pessoas (p.25).
Ainda segundo Fernando Morais, essa famílias foram levadas para triagem na Hospedaria dos Imigrantes,na capital paulista, e ali experimentaram o primeiro de incontáveis choques culturais, que foi a comida brasileira que por eles foi considerada intragável , porque eram asiáticos, e eram habituados á uma alimentação baseada em legumes,cereais, verduras e peixes de àgua salgada, provocando náuseas diante de uma comida gordurosa a eles oferecida. O sal só era conhecido por eles como ingrediente para doces, por exemplo.
Mais precisamente conforme descrito pelo autor, a região escolhida pelos japoneses para ser ocupada foi o Oeste Paulista, cujas matas estavam sendo derrubadas para dar lugar a onda verde dos cafezais e em poucos dias já estavam distribuídas pelas regiões da Alta Paulista, Noroeste, Mojiana, Sorocabana e, em número menor , por Santos e outras cidades litorâneas ( p. 25).
Entre outras coisas, hábitos como tomar banho sentados no ofurô, banheira circular de madeira,, foram ridicularizados pelos brasileiros desta respectiva região.
Ainda comenta o escritor que as mulheres eram chamadas de "macacas", pelas vizinhas, porque carregavam os bebês presos ás costas.
Navios japoneses continuaram a desembarcar imigrantes no porto de Santos,apesar de todas as circunstâncias.
Nos primeiros sete anos de duração do acordo entre Brasil e Japão,o Japão despachou para o Brasil mais 3.434 famílias ou 14.983 pessoas. Por incrível que possa isso parecer não só durante a 2° guerra Mundial , mas também quando eclodiu a Primeira guerra Mundial em 1914 em termos de fluxo migratório , entre 1917 e 1940 mais de 164 mil japoneses se mudaram para o Brasil,sendo que apenas 25 por cento deles tomaram o destino do Paraná, de Mato Grosso e de outros estados. (p.30)
Apesar de não quererem se integrar á sociedade brasileira, japoneses adotaram algumas práticas cotidianas de nossa sociedade brasileira, japoneses se encantaram com o jogo do bicho , além de uma outra instiuição bem típica das fronteiras agrícolas, que era o costume de frequentar a zona de meretrício, que exercia uma grande sedução junto aos homens da colônia japonesa, assim como na cidade paulista de Marília, uma cidade que na época possuía uma população de 80 mil habitantes, dos quais 20 mil eram japoneses e que no final dos anos 30, em meio aos 653 imóveis construídos na cidade, contava com 87 deles ocupados por prostíbulos(p.31).Ao contrário de países como Canadá e região norteamericana do Havaí, por exemplo, cujos fluxos migratório japoneses forma diferentes do ocorrido no Brasil, a imigração japonesa baseou-se na unidade familiar e não no indivíduo, conforme divulgado por este autor em sua belíssima obra literária, e pesquisas decorrentes desta também, inclusive.
Segundo o autor, os primeiros imigrantes mostraram-se indiferentes em algumas das mais importantes crises e mudanças políticas ocorridas no Brasil do século xx,, poissentindo-se ainda japoneses e estrangeiros, para eles pouco ou nada significavam acontecimentos como a revolta do forte de Copacabana em 1922, a Coluna Prestes de 1924 á 1926, e até mesmo a revolução de 1930.
Na Revolução de 1932, São Paulo chegou a ter nisseis nas suas trincheiras e no final de 1938 medidas repressivas foram adotadas pelo então presidente Getúlio Vargas para enfrentar os "inimigos internos" que repercutiram negativamente na vida da comunidade japonesa. Mesmo em 10 de Novembro de 1937, quando o presidente instituíra o Estado Novo, fechando o congresso e os partidos políticos, colocando a imprensa sob censura e suspendendo as eleições presidenciais prevista para o ano de 1938, os japoneses não posicionaram e não se manifestaram publicamente, talvez porque os mesmos foram deixados á margem de tais acontecimentos sem precedentes porque não votavam, não exerciam sua cidadania e a democracia brasileira e foram raros os que sabiam ler no idioma português, e por issso, a repressão política, censura e arrocho político foram temas que não lhes vieram a dizer respeito(p.33).
Nesta mesma época, a Ação Integralista Brasileira, mantinha notórias relações com o fascismo Italiano e com os nazistas da Alemanha de Hitler,motivo pelo qual Getúlio baixara no dia 20 de Agosto de 1938 um decreto que veio a proibir publicações em línguas estrangeiras sem prévia permissão Ministério da justiça, prejudicando o acesso dos japoneses á notícias importantes para eles, pois na época circulavam em São Paulo cerca de vinte publicações regulares, segundo o autor,em língua japonesa, cujas tiragens passavam dos 50 mil exemplares foram a úmica fonte de informação das cerca de 200 mil japoneses residentes em São Paulo, decretando a morte lenta da imprensa japonesa no Brasil. Entre as ações arbitrárias e truculentas de Vargas contra os japoneses houve o confisco das economias, a proibição de se reunir em grupos de mais de três pessoas, o fechamento dos jornais japoneses,a proibição de viajar, de andar armado e até de falar,porque eles foram considerados "perigosos" á integridade e soberania nacional.
Em agosto de 1942, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo, decisão acompanhada de mais medidas restritivas aos imigrantes dos três países que foram: Alemanha, Itália e Japão(P.56)
Em 1944 do século XX,a comunidade japonesa do Brasil contava com 130 mil pessoas, sendo que 25 mil japoneses tomaram o rumo do porto de Santos.
Em Agosto de 1942, no auge das restrições impostas pelas leis de guerra, a situação dos japoneses parecia ser insuportável.
Cartas e documentos trocados clandestinamente pelas lideranças "patrióticas" concluíram que foi impossível deixar uma comunidade de 200mil pessoas ao Léu, isolada do mundo, submetida ás piores humilhações e proibida de fazer praticamente tudo , até mesmo de falar. No interior,os japoneses foram vigiados pela polícia e pelos vizinhos.
O Dops , que foi um órgão governamental repressor, descobriu que a Shindo Renmei teve, espalhados por 64 municípios paulistas, cerca de 100mil sócios- contribuintes inscritos oficialmente e "mais de 60 mil simpatizantes" assim disse o autor em seu renomado livro.
A polícia da época, disse o autor, concluíra que a Shindo Renmei movimentou todos os meses a fortuna de 700 mil cruzeiros , dinheiro equivalen a aproximadamente 500 mil dólares , 800 mil reais ou mais nso dias de hoje. (p.106)
Diga-se de passagem que foi uma época de grande turbulência em nossa sociedade civil, tempo em que pesssoas, pais de famílias eram exterminados na frente de filhos e esposas, além disso de paralisação do porto de Santos até o final de 1945, tempo em que o Dops contabilizara 491 greves no estado de Saõ Paulo, que levaram 350 mil trabalhadores a cruzar seus braços.
Em suma, a obra literária de Fernando Morais, além de instrutiva, é historicamente muito interessante, pois descreve acontecimentos pouco divulgado por livros didáticos, pouco divulgado pela mídia,é uma obra de arte merecedora de ser comentada, " empreitada" ousada pelo autor rumo á desvendar , esmiuçar com riqueza de detalhes as represálias sofridas por esta comunidade e uma excelente dica de leitura para os amados seguidores do blog Historiador Legal! Imperdível! Livro que não pode deixar de ser lido! Obra empolgante!´
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